2024-06-08

 



 


Pardais muito atiradiços

Estória de tomates

 

Antunes Ferreira

Curioso, há termos e temas que podem suscitar alguma celeuma, pelo seu significado, pela sua semântica, pela sua duplicidade, até mesmo pela má intenção com que uma palavra é utilizada. Corriqueiras são as calinas afirmações de que a pescada (peixe, substantivo) também é pescada (verbo) ou o vestido (vestuário, substantivo) que igualmente é vestido (verbo). Mas, não foi isso que nos fez vir aqui; foi mais a utilização de um comestível na gíria do calão – os tomates. Passe-se à horticultura. O tomate é o fruto do tomateiro (Solanum lycopersicum;  Solanaceae). Da sua família, fazem também parte as beringelas, as pimentas e os pimentões, que integram a família das Solanáceas, além de algumas espécies não comestíveis. A palavra portuguesa tomate vem do castelhano tomate, derivada do náutle (língua asteca) tomatl. Esta apareceu pela primeira vez na imprensa em 1595. As espécies são originárias das Américas Central e do Sul; a sua utilização como alimentos teve origem no México, espalhando-se por todo o mundo depois da colonização das Américas pelos europeus.



 

Ora, como é sabido, tomates são em calão português corrente, mais ou menos soft, os testículos dos homens que se prestam a ditos sobejamente conhecidos e usados: «Aquele gajo tem um par de tomates!» que o mesmo é dizer que o cidadão em causa é destemido, é valente, é audaz, é etc. Pelo contrário, se um sujeito perante uma situação mais delicada, mais complexa ou até mais perigosa, se encolhe, diz-se que «o tipo não tem tomates para aquilo…» A estória que hoje se conta reporta-se ao fruto do tomateiro que pode ser comido cru, por exemplo em saladas, ou cozinhado em caçarola, frigideira, forno, etc., e/ou recheado de diversos condimentos. Um país onde o tomate é muito consumido é a Itália, onde é utilizado em diversas recitas seco e frito, como nas pizzas.

 

Posto isto, chega de blá, blá, blá, e vamos ao cerne da questão.  A cena decorre inicialmente numa aldeia com pretensões a vilória, mais precisamente numa rua transversal à principal, ponteada de vivendas com largos quintais onde os proprietários costumavam ter hortas, que os legumes, contrariamente ao que apregoavam os senhores do movo Governo, estavam pela hora da morte e umas couves, nabiças, feijões verdes, espinafres, cenouras, cebolas, alhos e… tomates eram sempre muito apreciados e mastigados sem grandes investimentos, apenas alguns cuidados. A pacatez da pequena localidade (com um letreiro afixado junto à tabuleta do nome dela «Dizemos não ao nuclear» iniciativa da Junta da Freguesia) reflectia-se no ram-ram das tardes soalheiras.



 

Acontece que a menina Etelvina Soares da Conceição, viúva de 54 anos, mas ainda dentro do prazo de validade, decidira plantar na sua horta tomateiros de coração de boi pois os frutos eram os da melhor qualidade. Mas, ó vida desengonçada, apenas os ditos tomates surdiam vermelhos que eram um regalo vinham os pardais e impiedosamente bicavam-nos, não escapando sequer um exemplar. Etelvina experimentou um espantalho feito de velhas roupas cruzadas, braços e pernas e uma bola de plástico como cabeça; desavergonhados as aves fizeram dele poleiro para tomarem balanço e atacar os tomates da viúva (honny soit qui mal y pense)!

 

Mas, fatal como o destino, na vivenda ao lado o vizinho era o vereador Manuel Sebastião Gonçalves, solteirão de 62 anos, que também tinha uma plantação de tomates que cresciam belos e gordos mais vermelhos do que os antigos comunistas e, espanto dos espantos, imunes aos ataques pardalícios. Podia lá ser! Etelvina da Conceição ao fim de três anos não se conteve e foi perguntar ao Sebastião qual o truque para salvar os tomates dele (os frutos, claro). «Minha cara vizinha, o caso é muito simples. Conhece a loja de ferragens do senhor Fernandes, aquele velhote simpático?» Não conhecia ela, mas não tinha problema.


«Eu fui lá e comprei uns tomates de chumbo iguais aos naturais. Antes dos verdadeiros crescerem boto lá os falsos, os pássaros atacam-nos, lixam os bicos, desistem e quando os verdadeiros estão prontos é só colhê-los. Olhe só: são de tão boa qualidade que a  Heinz já me tem comprado uma bela quantidade para produzir o ketchup!»

 

«O senhor Gonçalves acha que o Fernandes ainda terá os frutos chumbo-salvadores?» E o vizinho, deitando uma nesga dum olho apreciador para o decote etelvinesco: «Pode ter a certeza, é só lá ir e comprar uns quantos e ficam logo resolvidos os seus problemas tomateiros.» Meu dito, meu feito, Etelvina foi direitinha à loja; atrás do balcão estava sentado numa cadeira de palhinha o Jacinto Fernandes, proprietário da baiuca, com os seus 76 anos. Ao ver entrar a cliente, o velhote levantou-se, com bastante dificuldade. «O que deseja minha Senhora?»

 

E a Etelvina: «Ó senhor Fernandes, tem tomates de chumbo?» O tendeiro tossicou: «Saiba Vossa Excelência que é mais reumático…»

__________

 

NOTA DO AUTOR: A estória não é original – mas parece-me ter a sua piada…

2024-05-19

 


Operação em Santa Cruz

 

Um coração novo

 

 

Antunes Ferreira

Ao fim de quase meio ano de ausência desta nossa casa, estou (estive) aqui no domingo último _ o que hoje repito a passar estes (esses) momentos com a minha querida família – o que é uma enormíssima felicidade!!!! Foi – tem sigo – uma saga – “complicadíssima” que passou por cerca de 50 dias acamado no Hospital de Santa Maria, onde me colocaram um pacemaker e me tolheram quaisquer possibilidades de locomoção autómata. Dali segui (para onde deveria ter sido encaminhadas) – porque não podia continuar a ocupar uma cama, por elas estarem híper ocupadas, não haver válvulas, sendo necessário a sua importação, não existir anestesista disponível, etc.  – para as Residências Montepio (cerca da «módica» quantia de € 3. 598, 90 mensais) aguardando que me fosse marcada a intervenção de que já vos tinha dado conta no último texto publicado no meu blogue.

 

Andarilho

Entretanto aguardava se a operação se realizaria nos Hospitais de Santa Maria ou de Santa Cruz, o que resultou em quase cinco quatro meses durante os quais trabalhei em fisioterapia (a melhor coisa que há nas Residências) com o Fábio Pinheiro encarregado de me acompanhar; resultados: no primeiro dia senti-me enraivecido comigo próprio só conseguindo uns escassos movimentos no espaldar, depois comecei com um andarilho, uma bengala de três pés, uma bengala simples e finamente andar sozinho sempre acompanhado pelo Fábio. Falando livremente, é um «malandro» pachola; mas, no melhor pano cai a nódoa: é do Benfica. Diz o povo na sua eterna sabedoria – não se pode ter tudo… De resto, toda a equipa da fisioterapia, a Mafalda, a Rita, a Juliana (que eu «rebaptizei» de Tânia e a Vera = 5 estrelas.

 

Com o passar dos dias, semanas e meses fui adaptando-me ao novo modo de vida, tentando, como é meu feitio e hábito, dar-me bem com todo o pessoal que aqui trabalha: administrativos, médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, auxiliares ocupacionais, orientadores, dietistas, pessoal das cozinhas, serventes e outros. Bom senso, boa educação, sensibilidade, noção extrema da igualdade, tudo incutido pelos meus pais, pela escola primária (quão grato lhes fiquei!) e pela escola da vida, conjugadas com a vivência universitária resultaram no «produto» em vias de extinção… mas dentro do prazo de validade. Aqui tenho de sublinhar a minha mesa no refeitório, que considero a melhor do «mundo gastronómico» e que é constituída pelos srs. Carlos Leal, 98 anos, António Lagoa, 92 anos, Joaquim Mourão, tal como eu, 82 anos. Entre anedota (sou o principal fornecedor sem IVA) comentários, apartes bem-dispostos é um fartote. Mais do que uma seita somos um gangue gargalhante.

Hospital de Santa Cruz - Bloco operatório

 Finalmente na segunda-feira, 30 de Março fui operado no Magnifico Hospital de Santa Cruz onde nem sequer fui anestesiado, apenas sedado; a válvula foi colocada por cateter – doeu-me um bocado, mas aguentei-me. A anestesista ia-me animando com a sua cabeça encostada à minha.  A intervenção correu tão bem que o cateter foi-me retirado logo após ter sido terminada a cirurgia – o que não parece ser habitual pois o normal é sê-lo passados dois ou três dias. Resumindo: estive internado em Santa Cruz UM DIA E MEIO!!!!

Residências Montepio Entrecampos

 Uma nota obrigatória para as Residências Montepio, obviamente uma instituição destinada ao apoio e tratamento sobretudo a pessoas da terceira idade, mas em última análise uma máquina de fazer dinheiro! Naturalmente que são um negócio e como todos eles destinam-se a obter lucros. Mas – para mim, talvez demasiado sensível – os utentes são indivíduos diminuídos, alguns com graves deficiências, babando-se, adormecendo nas adeiras de rodas, tendo de ser alimentados pelas/os assistentes/auxiliares, etc. o que já de si portador (controlado felizmente) de bipolar é extremamente deprimente.

 Porém, como  em tudo o resto da vida há o «bom» e o «menos bom» para não sublinhar o «mau»; os dias que vão correndo não se podem, nem devem, dividir-se entre o branco e preto; tal dicotomia não existe e se a queremos adoptar cometemos um erro crasso. No entanto, sem menosprezo para quantos nas Residências trabalham, sinto-me apto a referir a enfermeira Andreia Ferreira, uma profissional de mão cheia, que se tornou minha amiga e até tem o nome duma «namoradinha, paixão» quando eu tinha 14 aninhos bem como o auxiliar António Correia, meu cúmplice e companheiro nas saídas para consultas e exames no exterior e, sobretudo, um compincha a verde e branco, ou seja, um Leão não da Estrela, mas das Residências Montepio Entrecampos. E para terminar pelo começo tenho de apontar a equipa capilo-unhal constituída pela Manuela (que nunca me quis fazer madeixas…) e a Noélia (que trata dos meus cascos).

 Como fui católico, mas curei-me, in fine, ite, missa est. Ámen. 


NR Este texto pode sair repetido por mor das diabruras do Blogger!!!!! Se assim for, aqui ficam as desculpas do autor.  

 

 Es


2024-04-21

 


Operação em Santa Cruz

 

Um coração novo

 

 

Antunes Ferreira

Ao fim de quase meio ano de ausência desta nossa casa, estou (estive) aqui no domingo último _ o que hoje repito a passar estes (esses) momentos com a minha querida família – o que é uma enormíssima felicidade!!!! Foi – tem sigo – uma saga – “complicadíssima” que passou por cerca de 50 dias acamado no Hospital de Santa Maria, onde me colocaram um pacemaker e me tolheram quaisquer possibilidades de locomoção autómata. Dali segui (para onde deveria ter sido encaminhadas) – porque não podia continuar a ocupar uma cama, por elas estarem híper ocupadas, não haver válvulas, sendo necessário a sua importação, não existir anestesista disponível, etc.  – para as Residências Montepio (cerca da «módica» quantia de € 3. 598, 90 mensais) aguardando que me fosse marcada a intervenção de que já vos tinha dado conta no último texto publicado no meu blogue.

 

Andarilho

Entretanto aguardava se a operação se realizaria nos Hospitais de Santa Maria ou de Santa Cruz, o que resultou em quase cinco quatro meses durante os quais trabalhei em fisioterapia (a melhor coisa que há nas Residências) com o Fábio Pinheiro encarregado de me acompanhar; resultados: no primeiro dia senti-me enraivecido comigo próprio só conseguindo uns escassos movimentos no espaldar, depois comecei com um andarilho, uma bengala de três pés, uma bengala simples e finamente andar sozinho sempre acompanhado pelo Fábio. Falando livremente, é um «malandro» pachola; mas, no melhor pano cai a nódoa: é do Benfica. Diz o povo na sua eterna sabedoria – não se pode ter tudo… De resto, toda a equipa da fisioterapia, a Mafalda, a Rita, a Juliana (que eu «rebaptizei» de Tânia e a Vera = 5 estrelas.

 

Com o passar dos dias, semanas e meses fui adaptando-me ao novo modo de vida, tentando, como é meu feitio e hábito, dar-me bem com todo o pessoal que aqui trabalha: administrativos, médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, auxiliares ocupacionais, orientadores, dietistas, pessoal das cozinhas, serventes e outros. Bom senso, boa educação, sensibilidade, noção extrema da igualdade, tudo incutido pelos meus pais, pela escola primária (quão grato lhes fiquei!) e pela escola da vida, conjugadas com a vivência universitária resultaram no «produto» em vias de extinção… mas dentro do prazo de validade. Aqui tenho de sublinhar a minha mesa no refeitório, que considero a melhor do «mundo gastronómico» e que é constituída pelos srs. Carlos Leal, 98 anos, António Lagoa, 92 anos, Joaquim Mourão, tal como eu, 82 anos. Entre anedota (sou o principal fornecedor sem IVA) comentários, apartes bem-dispostos é um fartote. Mais do que uma seita somos um gangue gargalhante.

Hospital de Santa Cruz - Bloco operatório

 Finalmente na segunda-feira, 30 de Março fui operado no Magnifico Hospital de Santa Cruz onde nem sequer fui anestesiado, apenas sedado; a válvula foi colocada por cateter – doeu-me um bocado, mas aguentei-me. A anestesista ia-me animando com a sua cabeça encostada à minha.  A intervenção correu tão bem que o cateter foi-me retirado logo após ter sido terminada a cirurgia – o que não parece ser habitual pois o normal é sê-lo passados dois ou três dias. Resumindo: estive internado em Santa Cruz UM DIA E MEIO!!!!

Residências Montepio Entrecampos

 Uma nota obrigatória para as Residências Montepio, obviamente uma instituição destinada ao apoio e tratamento sobretudo a pessoas da terceira idade, mas em última análise uma máquina de fazer dinheiro! Naturalmente que são um negócio e como todos eles destinam-se a obter lucros. Mas – para mim, talvez demasiado sensível – os utentes são indivíduos diminuídos, alguns com graves deficiências, babando-se, adormecendo nas adeiras de rodas, tendo de ser alimentados pelas/os assistentes/auxiliares, etc. o que já de si portador (controlado felizmente) de bipolar é extremamente deprimente.

 Porém, como  em tudo o resto da vida há o «bom» e o «menos bom» para não sublinhar o «mau»; os dias que vão correndo não se podem, nem devem, dividir-se entre o branco e preto; tal dicotomia não existe e se a queremos adoptar cometemos um erro crasso. No entanto, sem menosprezo para quantos nas Residências trabalham, sinto-me apto a referir a enfermeira Andreia Ferreira, uma profissional de mão cheia, que se tornou minha amiga e até tem o nome duma «namoradinha, paixão» quando eu tinha 14 aninhos bem como o auxiliar António Correia, meu cúmplice e companheiro nas saídas para consultas e exames no exterior e, sobretudo, um compincha a verde e branco, ou seja, um Leão não da Estrela, mas das Residências Montepio Entrecampos. E para terminar pelo começo tenho de apontar a equipa capilo-unhal constituída pela Manuela (que nunca me quis fazer madeixas…) e a Noélia (que trata dos meus cascos).

 Como fui católico, mas curei-me, in fine, ite, missa est. Ámen.  

 

 


2024-04-14

 


Operação em Santa Cruz

 

Um coração novo

 

 

Antunes Ferreira

Ao fim de quase meio ano de ausência desta nossa casa, estou (estive) aqui no domingo último _ o que hoje repito a passar estes (esses) momentos com a minha querida família – o que é uma enormíssima felicidade!!!! Foi – tem sigo – uma saga – “complicadíssima” que passou por cerca de 50 dias acamado no Hospital de Santa Maria, onde me colocaram um pacemaker e me tolheram quaisquer possibilidades de locomoção autómata. Dali segui (para onde deveria ter sido encaminhadas) – porque não podia continuar a ocupar uma cama, por elas estarem híper ocupadas, não haver válvulas, sendo necessário a sua importação, não existir anestesista disponível, etc.  – para as Residências Montepio (cerca da «módica» quantia de € .3. 598, 90 mensais) aguardando que me fosse marcada a intervenção de que já vos tinha dado conta no último texto publicado no meu blogue.

 

Entretanto aguardava se a operação se realizaria nos Hospitais de Santa Maria ou de Santa Cruz, o que resultou em quase cinco quatro meses durante os quais trabalhei em fisioterapia (a melhor coisa que há nas Residências) com o Fábio Pinheiro encarregado de me acompanhar; resultados: no primeiro dia senti-me enraivecido comigo próprio só conseguindo uns escassos movimentos no espaldar, depois comecei com um andarilho, uma bengala de três pés, uma bengala simples e finamente andar sozinho sempre acompanhado pelo Fábio. Falando livremente, é um «malandro» pachola; mas, no melhor pano cai a nódoa: é do Benfica. Diz o povo na sua eterna sabedoria – não se pode ter tudo… De resto, toda a equipa da fisioterapia, a Mafalda, a Rita, a Juliana (que eu «rebaptizei» de Tânia e a Vera = 5 estrelas.

 

No bloco operatório

Finalmente na segunda-feira, 30 de Março fui operado no Magnifico Hospital de Santa Cruz onde nem sequer fui anestesiado, apenas sedado; a válvula foi colocada por cateter – doeu-me um bocado, mas aguentei-me. A anestesista ia-me animando com a sua cabeça encostada à minha.  A intervenção correu tão bem que o cateter foi-me retirado logo após ter sido terminada a cirurgia – o que não parece ser habitual pois o normal é sê-lo passados dois ou três dias. Resumindo: estive internado em Santa Cruz UM DIA E MEIO!!!!

 


Residências Montepio Entrecampos 

Uma nota final para as Residências Montepio, obviamente uma instituição destinada ao apoio e tratamento sobretudo a pessoas da terceira idade, mas em última análise uma máquina de fazer dinheiro! Naturalmente que são um negócio e como todos eles destinam-se a obter lucros. Mas – para mim, talvez demasiado sensível – os utentes são indivíduos diminuídos, alguns com graves deficiências, babando-se, adormecendo nas adeiras de rodas, tendo de ser alimentados pelas/os assistentes/auxiliares, etc. o que já de si portador (controlado felizmente) de bipolar é extremamente deprimente.

 

Porém, como em tudo o resto da vida há o «bom» e o «menos bom» para não sublinhar o «mau»; os dias que vão correndo não se podem, nem devem, dividir-se entre o branco e preto; tal dicotomia não existe e se a queremos adoptar cometemos um erro crasso. No entanto, sem menosprezo para quantos nas Residências trabalham sinto-me apto a referir a enfermeira Andreia Ferreira, uma profissional de mão cheia, que se tornou minha amiga e até tem o nome duma «namoradinha, paixão» quando eu tinha 14 aninhos bem como o



 auxiliar António Correia, meu cúmplice e companheiro nas saídas para consultas e exames no exterior e, sobretudo, um compincha a verde e branco, ou seja, um Leão não da Estrela, mas das Residências Montepio Entrecampos. E para terminar pelo começo tenho de apontar a equipa capilo-unha constituída pela Manuela (que nunca me quis fazer madeixas…) e a Noélia (que trata dos meus cascos).

 Como fui católico, mas curei-me, in fine, ite, missa est. Ámen.  

 

 

2023-09-22

 

 


Uma válvula cardíaca

*Vai ser de substituição e o doente sou eu

  

Antunes Ferreira

Um dia que devia ser de festa (82 anos não se fazem sempre…) tornou-se, de repente, um pesadelo. Parece difícil de acreditar, mas passou-se comigo. Se não vos chateio muito, vou tentar explicar a expressão. Desde já vos peço perdão pelo tempo que eventualmente vos roubarei. Porém a vida é feita de pequenos nadas como canta o Sérgio Godinho, de quem não gosto, mas, mesmo assim, transcrevo um trecho: «Segunda-feira trabalhei de olhos fechados; Na terça-feira acordei impaciente; Na quarta-feira vi os meus braços revoltados; Na quinta-feira lutei com a minha gente; Na sexta-feira soube que ia continuar; No sábado fui à feira do lugar

Mais uma corrida, mais uma viagem; Fim-de-semana é para ganhar coragem

Muito boa noite, senhoras e senhores; Muito boa noite, meninos e meninas; Muito boa noite, Manuéis e Joaquinas; Enfim, boa noite, gente de todas as cores; E feitios e medidas; E perdoem-me as pessoas; Que ficaram esquecidas

Boa noite, amigos, companheiros, camaradas; A vida é feita de pequenos nadas; A vida é feita de pequenos nadas; A vida é feita de pequenos nadas; A vida é feita de pequenos nadas (…)» Há já uns tempos que me sentia muitíssimo cansado sem razão aparente para que isso acontecesse. Não me preocupei muito, a idade não perdoa e a cabeça continuava (e continua) a trabalhar. Porém a dado momento comecei a perguntar-me o que se estaria passando, pois nunca tal não me acontecera. E embora não goste de incomodar, dei conta à Raquel do que já eram as minhas preocupações. Ela pôs-se imediatamente em acção: marcou uma consulta para o Dr. Nazaré, cardiologista (que já me vira há anos) que trabalha na UCS/TAP – a Unidade de Cuidados de Saúde da transportadora aérea portuguesa, que é um verdadeiro mini hospital com valências as mais diversas, só faltando as TAC e as Ressonâncias Magnéticas.


A consulta resultou no pedido do clínico de diversos exames e análises, concluídas todas iria de novo ser visto por ele. E assim aconteceu – logo no dia do meu aniversário. Lá fomos, a Raquel, o Luís Carlos, o nosso terceiro filho a servir não só de acompanhante, mas também de condutor; entrámos (o casal) e o Dr. Nazaré, depois de analisar os documentos, virou-se para mim e disse-me: «Senhor Henrique, o seu caso é MUITO GRAVE!!! Na minha opinião e face ao que estou a ver tem de ser mudada uma válvula cardíaca e substituí-la por uma artificial.»

 Caíram-me embora estivesse sentado, umas «coisas entre pernas» aos pés; e logo no dia dos eus 82 anos! Contudo, o médico prosseguiu: «Trata-se de um assunto MUITO URGENTE! Vou escrever uma carta ao meu colega Rui Telles, que é a maior autoridade nos casos como o seu e trabalha no Hospital de São João. O senhor, na minha opinião, não tem condições para uma intervenção cirúrgica, mas isso competirá ao meu colega; penso que ele utilizará o cateter.» E escreveu a carta que devia ser entregue em mão.

A partir daí podem imaginar como eu (e a família) nos sentimos. Não tenho pejo em confessá-lo: estou um tanto «acagaçado» …

 

 

2023-09-15

 


Futebol visto no estádio

*Isto não vale nada, prefiro na televisão

 

Antunes Ferreira

Com os seus seis anos, Viriato era um adepto do futebol – pela televisão, tal como «Os quatro blindados e o seu cão», o «Bonanza», «Ed, o cavalo que fala» e outras series mais. Mas, os onze homens, um em cada posto, envergando uniformes diversos, tentando meter o esférico na baliza adversária com três senhores vestidos de preto (um com um apito) eram o máximo!

O pai, Januário, oficial de carreira, desempenhava as funções de chefe do Gabinete do Presidente da República, e raras vezes estava em casa. Viriato, sendo filho único, herdeiro do nome do chefe dos Lusitanos que fora líder destes entre 147 e 139 a.C., vencendo diversos exércitos romanos. Símbolo da resistência ao invasor, detentor de capacidades excepcionais de liderança, vencido pela traição de aliados, terá sido igualmente um homem frugal, segundo algumas fontes. Viseu considera-se hoje, o autor da estória – ou lenda.

No entanto um dia, o progenitor, inesperadamente, perguntou ao filho se gostaria de ver a sua equipa, o Sporting, a jogar em casa, no estádio José Alvalade (o antigo); Viriato quase desfaleceu, «Pois claro, não há dúvidas!!!! E foram. Como oficial do Gabinete do Presidente Craveiro Lopes, ficaram instalados no camarote dele. E aí começaram as encrencas. «Ó pai, não fazem o relato, como na RTP?» «Cala-te miúdo, que estão todos a olhar para nós!»

Mas o pior estava para vir; Viriato, circunspecto: «Isto assim não vale nada! Não há repetições como na televisão, não se pode voltar atrás, prá gente entender se o tipo meteu golo com a mão ou não?!?!?» Que diria o Diego Maradona????????

 

 


2023-09-09

 

...partira de Chicago em 11/11/1929

O gelo no comboio

*A travessia dum deserto interminável

 

Antunes Ferreira

O comboio partira de Chicago em 11 de Novembro de 1929. Seguiria por Illinois, passando pelos estados de Missouri, Kansas, Oklahoma, Texas, Novo México, Arizona e terminava na cidade de Santa Mónica. Tinha apenas três carruagens, a máquina e o vagon para o carvão. Uma das carruagens era destinada ao transporte das bagagens dos passageiros e outras com passageiros destinados para diversos destinos.

Já há mais de dez horas o ronceiro trem avançava, soluçando, atravessando um deserto aparentemente interminável. Os passageiros, metidos naquela aventura, respiravam com dificuldade o ar pesado e a água das poucas vasilhas estava tão quente como o ambiente. Olhavam-se uns aos outros desvairados, a morrer de sede.

Eis senão quando, do vagon das bagagens, saiu um cavalheiro, de fraque, com um balde na mão, anunciando: «Gelo, gelo, quem quer gelo? Cada pedra dez cents!» O pessoal nem regateou, havia pedras de gelo para toda a malta – todos compraram e deitaram nas respectivas vasilhas. Água fresa – que delicia!

«O  cadáver decompõe-se...»

Entretanto o cavalheiro regressara à sua carruagem e o calor e a sede não desistiam. Abriu-se de novo a porta e saiu o cidadão com o balde: «Cada pedra 50 cents!» Vozes quase e uníssono: «Roubalheira!!!!» Mas compraram. O homem retirou-se outra vez, mas passada meia hora, voltou: «Cada pedra um dólar!» Um grupo organizou-se para assassinar o energúmeno! Contudo a serenidade venceu e todos esportularam a enormidade. O fulano retirou-se, mas após uns escassos minutos reapareceu sem o balde! Um brado colectivo: «Onde é que está o gelo?» E o sujeito, tranquilamente: «Se eu tiro mais gelo, o cadáver entra em decomposição»   

Beijos & queijos flamengos Limiano


2023-09-03

 

Numa caserna à noite

*Você não tens nada com isso, não é teu

 

Antunes Ferreira

Era uma noite encalorada, com um cacimbo medroso a pairar sobre Lourenço Marques e o tenente miliciano Manuel Guilherme Pontes Fernandes, de oficial de dia ao QG/RMM, o Quartel-General da Região Militar de Moçambique (mas, de noite…) lá pelas três da madrugada mandou o ordenança chamar o sargento de dia, aliás um furriel também miliciano, Carlos Virgílio Mascarenhas Menezes, goês.

Após ele ter chegado (davam-se muito bem pois a esposa do Pontes Fernandes também era goesa, até da mesma localidade, Pondá, tinham sido colegas na escola primária) o tenente propôs-lhe dar uma volta pela caserna só para verificar se estava tudo nos conformes. Munidos de lanternas lá foram eles.

(...) tens nada com isso...

 Para que depois os que (ainda) me toleram e leem, não me acusem de não os ter avisado, aqui fica anotado que, de seguida e até ao fim deste post, as/os mais sensíveis ou melindrosas/os devem estar preocupadas/os com a linguagem que utilizo. Se não gostarem, ponham na beirinha do prato.

Ao entrarem na caserna, Pontes Fernandes apontou o feixe de luz sobre dois soldados pretos, todos nus, um em cima do outro, movendo-se em avanços e recuos e resfolegando. Tanto o oficial como o furriel pararam estupefactos: «Parem já!!!!» berrou o tenente. E o soldado que estava a ser enra… por baixo, regougou, sem ver, sequer, com quem estava a falar: «Você não tens nada com isso! A cu é teu?»

 

 


2023-08-28

 

Ai os verbo

 

Antunes Ferreira

Uma sugestão do meu grande amigo «anónimo/Seixas da Costa(1)» é uma ordem para mim. Diz-me que devo escrever porque os longos que habitualmente faço, afastam os que ainda me leem. Por isso aqui vai.

A cena passa-se em Luanda nos tempos da guerra colonial (a que o ditador de Santa Comba crismou de “ultramarina”) e quando o professor Sebastião entra na sala de aulas da primária para alunos entre os doze e catorze anos. Tão só uma advertência: a linguagem utilizada é, tão aproximada quanto possível da que era praticada pelos naturais negros sem grande estrato cultural. Não há aqui qualquer resquício de apartheid.  

«Hoje, vamo dar os verbo, que é aquele coisa que usamo quando vamo na loja do branco sôr Faustino comprar um quilo de fuba para fazer o funje. Entenderam?»

A turma inteira: «Sim, professor!» Então, o Sebastião aponta o Carlos: «Diz um verbo?» «Biscreta.» Ouve minino, não é biscreta, é bi ci cre ta, e é um sustantivo»

«E tu, Calomo, dá-me um verbo?» O Calomo respira fundo: «Prástico» Sebastião vai os arames: «Prástico é aquilo pra fabricar alguidares, carrinhos no Jumbo, frascos da farmácia – mas tamém é um sustantivo! Fogo!»

Finamente e em desespero, o professor aponta com o ponteiro para o Miquelino: «Se não me dás um verbo, mando cortar-te os tomates!!!» Miquelino empertiga-se: «Hospedar!» Sebastião rejubila: «Isto sim, isto é um verbo; faz uma frase com esse verbo, por favor…»

Miquelino pigarreia e atira: «Os pedar da minha biscreta são de prástico!...»

______________

(1)
Ele não precisa, mas é o Seixas da Costa


 

 

2023-08-23

O pároco e o túmulo

*Da pesquisa até ao Santo Sepulcro

 

Antunes Ferreira

Alguém sabia que o túmulo que se acredita ser a tumba de Jesus foi aberto em 2016 pela primeira vez após séculos? Por décadas, arqueólogos e teólogos vêm discutindo se a Igreja do Santo Sepulcro em Jerusalém é o o local onde ocorreu o sepultamento e a ressurreição de Cristo. A tumba foi selada em mármore desde 1500 para evitar que os visitantes roubassem peças como relíquias. Desse modo, ela é cerca de 700 anos mais velha do que se pensava, construída no ano 300, de acordo com pesquisas da Universidade Técnica Nacional de Atenas. Isso concorda-se com a crença histórica de que os romanos construíram um santuário no local por volta do ano 325 para marcar o local do sepultamento de Jesus.

Onde fica a tumba de Jesus?

De acordo com historiadores, o descanso final de Jesus fica numa caverna dentro da igreja e contém uma tumba conhecida como Edícula. O teste deu-se como parte do trabalho de restauração que abriu o túmulo pela primeira vez em séculos, em Outubro de 2016. Com efeito, a equipa da Universidade Técnica Nacional de Atenas datou a argamassa sob a laje inferior para o ano 345 usando um processo chamado luminescência opticamente estimulada, que determina quando uma substância foi exposta à luz pela última vez.




Constantino, o Grande (306 a 337 d.C.)

Além disso, acredita-se que Constantino, o Grande, o primeiro imperador cristão de Roma que governou de 306 a 337, tenha enviado representantes a Jerusalém para encontrar o túmulo de Jesus. A tumba foi descoberta em 1867, mas a crença de que este é o local exato onde Jesus foi sepultado, também vive no meio de controvérsias. Contudo, um dos pontos-chave para apoiar a autenticidade da Tumba é sua localização. À Bíblia afirma que o local de sepultamento está fora dos muros da cidade, o que de facto é o Túmulo do Jardim, ao contrário da Igreja do Santo Sepulcro, que está dentro deles.

Um outro ponto sobre a autenticidade da Tumba do Jardim é que os arqueólogos colocaram a data da tumba como sendo 9 a 7 a.C., correspondendo ao final da era do Velho Testamento. Por último, os bancos funerários da Tumba do Jardim foram cortados durante o período bizantino dos séculos 4 a 6. Isso dá crédito aos historiadores que afirmam que, se fosse um local de tal importância, não teria sido desfigurado dessa forma. Aliás, no momento da reforma do túmulo, a Igreja do Santo Sepulcro já era reverenciada como o mais importante santuário cristão.

É realmente o túmulo de Jesus?

Os especialistas ainda têm dúvidas sobre se este túmulo realmente pertenceu ou não a Jesus Cristo. Ao contrário dos representantes da igreja de Constantino que determinaram qual cruz pertencia a Jesus por meio de façanhas milagrosas; arqueologicamente, existe a possibilidade de que essa tumba também pudesse ter pertencido a outro judeu famoso como Jesus de Nazaré. Entretanto, uma longa prateleira ou leito funerário é a principal característica do túmulo. Conforme a tradição, o corpo de Cristo foi posto no local após a crucificação. Essas prateleiras eram comuns durante o tempo de Jesus em tumbas de judeus ricos durante o primeiro século. Os últimos relatos escritos por peregrinos mencionam um revestimento de mármore cobrindo o leito do cemitério.

Como é por dentro da Edícula?


A edícula é uma pequena capela

A edícula é uma pequena capela que abriga o Santo Sepulcro. Possui duas salas – uma contém a Pedra do Anjo, que se acredita ser um fragmento da pedra que selou o túmulo de Jesus, a outra é o túmulo de Jesus. Após o século XIV, uma placa de mármore sobre o túmulo agora o protege de novos danos causados ​​por multidões de peregrinos. A Igreja Católica, Apostólica e Romana, a Ortodoxa Oriental e a Apostólica Arménia têm acesso legítimo ao interior da tumba. Além disso, todas as três celebram a Santa Missa ali diariamente. Entre Maio de 2016 e Março de 2017, a edícula passou por uma cuidadosa restauração e reparação para que a estrutura para se tornasse novamente segura para os visitantes. A entrada na igreja é gratuita e turistas de todas as religiões são bem-vindos.

Outra provável tumba de Jesus

A Tumba do Jardim fica fora dos muros da cidade de Jerusalém, perto do Portão de Damasco. Desse modo, muitos a consideram como o local do sepultamento e ressurreição de Jesus Cristo. Também conhecida como Calvário de Gordon, a Tumba do Jardim é diferente da edícula que existe na Igreja do Santo Sepulcro. A tumba foi descoberta em 1867, mas a crença de que este é o local exato onde Jesus foi sepultado, também vive no meio de controvérsias. Contudo, um dos pontos-chave para apoiar a autenticidade da Tumba é sua localização. A Bíblia afirma que o local de sepultamento está fora dos muros da cidade, o que de facto é o Túmulo do Jardim, ao contrário da Igreja do Santo Sepulcro, que está dentro deles.

Um outro ponto sobre a autenticidade da Tumba do Jardim é que os arqueólogos colocaram a sua data como sendo 9 a 7 a.C., correspondendo ao final da era do Velho Testamento. Por último, os bancos funerários da Tumba do Jardim foram cortados durante o período bizantino dos séculos 4 a 6. Isso dá crédito aos historiadores que afirmam que, se fosse um local de tal importância, não teria sido desfigurado dessa forma. Diga-se que, no momento da reforma do túmulo, a Igreja do Santo Sepulcro já era reverenciada como o mais importante santuário cristão.

Ponte Linhares cuja construção começou em 1633


Custódio Francisco Xavier Mascarenhas era o pároco da freguesia de Manduri em Goa que, diga-se de passagem, tem uma esplêndida igreja dedicada a Nossa Senhora do Refugiu ou do Amparo, desde o tempo dos portugueses. Curioso: a expressão «do tempo dos portugueses» é frequentemente usada pelas goesas e goeses da faixa etária dos 70 aos 80 principalmente os que frequentaram o Liceu Nacional Afonso de Albuquerque. Um taxista, que trazia um casal metropolitano de um casamento, ao atravessar o rio Mandovi por uma das duas pontes que unem as margens, comentou: «Uma delas caiu, foi feita pelos indianos, mas já está de novo operacional. Contudo, reparem, ali em baixo, uma pequena ponte em pedra, iniciada em 1633; é a ponte Linhares, mandada construir por Dom Miguel de Linhares que foi Governador-Geral das Índias. Quero dizer que é “do tempo dos portugueses”!»

Mas, volte-se ao túmulo de Cristo, com a longa discussão académica e metidos «ao barulho» geólogos, teólogos, historiadores dos séculos em C., fotógrafos especialistas et aliit. O padre Mascarenhas pertencia ao grupo dos não crentes em túmulos do Senhor, tantos já tinham sido encontrados, salientados, desmitificados e por fim, desmentidos! Para ele, a ressurreição de Jesus não se discutia, era um dogma. Sabendo da Fé que ele amamentava, por uma tarde de mormaço, o sacristão perguntou-lhe se queria ouvir uma anedota relacionada com a vida de Nosso Senhor no Céu. «Graças a Deus, muitas; graças com Deus, nenhumas! Mas, enfim, Sebastião, conta lá…»  

Jesus entregando as chaves do Céu a Pedro

«Jesus foi ter com o Seu Pai e pediu-Lhe: isto por cá está a tornar-se monótono, sempre a mesma coisa, de nuvem para a harpa, da harpa para a nuvem… etc. Nem sequer o Pedro perdeu as chaves…» O Espírito Santo andava numa azafama a ver se conseguia, por milagre, safar o banco, por isso o Pai de todos e de tudo perguntou a Jesus: «Meu Filho, Bem Amado, o que me queres pedir?» Cristo: «Meu Adorado Pai, autoriza-me a baixar à Terra – só por uns quatro ou cinco dias. Quero ver in locu como vão as coisas por lá…» «Mas, mas não te esqueça Meu Filho, a última vez que passaste por lá crucificaram-te!» «Mas ressurgi!»  

Cristo desceu e aterrou à porta dum Centro do Serviço Nacional de Saúde. No seu tempo não havia nada disso. Movido pela curiosidade, entrou e viu que estavam sentadas várias pessoas, sobretudo mulheres idosas, outras fingia que trabalhavam atrás dum balcão e, no meio de tudo isto, circulavam uns fabianos de bata branca e com «aparelhómetro» pendurado do pescoço. Também havia um grupo sentado à espera que dentro dum espaço gritasse «Entre!» Cristo não foi de modas, queria ver aquilo até ao fim; estava uma bata branca pendurada num cabide de pé alto; vestiu-a e entrou na sala.

«Nem me mediu a tensão arterial...»


Um sujeito sentado a uma secretária paramentado como médico, quase lhe saltou para o pescoço: «O colega veio atrasado, mas veio! Tenho a família à espera, vamos para Faro. Fique já aqui e ouça o próximo doente, Chao!» Jesus assim fez: «Entre!» E entrou um jovem com os seus vinte e pucos anos, numa cadeira de rodas que, sem deixar o homem de Nazareth falar, avançou: «A culpa foi toda minha; há oito meses pelo meu aniversário, os meus pais ofereceram-me uma Harley-Davidson. Excedi-me na velocidade e veio um sobreiro contra mim! Resultado: paraplégico! Já consultámos os melhores especialistas aqui e no estrangeiro e nada! Sou uma besta muito avinagrada.»

Jesus levantou-se, pôs-se em pé junto ao paciente: «Como te chamas?» «Eleutério, senhor doutor» Cristo impôs as Suas Mãos: «Eleutério, levanta-te e anda!» E assim aconteceu. O jovem nem quis saber da cadeira de rodas e ia a sair quando o «novo doutor» mandou «Entre!» para o seguinte. Cruzaram-se os dois doentes à porta. E o que vinha para o que saía: «Que tal o novo médico?» «Uma bosta; nem me mediu a tensão arterial…» Si non è vero…

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NB - O trabalho de investigação foi feito em várias fontes. O autor apenas as adaptou, em certa margem, corrigiu e por isso agradece ao Google da Wikipédia. A.F.