Antunes Ferreira
S
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exta-feira, 13, era um dia aziago, pelo menos diziam os
entendidos. Em que matéria? Para se obter uma resposta, dizia a Dona Alzira
havia que consultar o padre António Fontes, mentor e fundador do Congresso de Medicina
Popular de Vilar de Perdizes, que tivera a sua XXIX edição e que tinha “coisas”
e mezinhas para tudo desde emplastros para dores nas cruzes até póses
para desencontros de amor, rezas em cruzes destinados a divórcios não
desejados, traições maritais e mulherais, e tercenas a Santo Ifigénio
d’Alfarrobeira para encontrar objectos
perdidos e não achados.
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Sem legenda |
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Padre Fontes |
D
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esde já há que esclarecer que o padre Fontes era figura de
monta no concelho de Montalegre e em especial na freguesia de Vilar de Perdizes.
O Congresso fora-se transformando durante os seus 29 anos numa feira onde se
podia comprar tudo o que acima consta; as diversas barracas tinham os
apetrechos mais apetecidos para datas especiais. Havia bruxas e fadas e até se
comemorava o Halloween – que era o dia delas. Era uma festa com grupos
regionais, harmónios, bombos e bimbos.
N
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aquela sexta-feira, 13, resmoneava o Segismundo sobre o raio do tempo, nem chuva, nem sol, uma merda. O rapaz mantinha-se solteiro, até se dizia que era panilas, mas era boato ignóbil, até gostava de
fêmeas, mas de passatempo, porque alianças na mão esquerda eram sinónimo de
prisão e ele não estava para aí caído. Ver o Sol aos quadradinhos matrimoniais
não o entusiasmava e ele lá tinha as suas razões, com o desespero da dona
Filomena que não sossegava enquanto não tivesse neto, bastava-lhe um, mas se
viessem mais… onde se cria um criam-se sete… E o filho “moita-carrasco…”
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Um desafio à ASAE |
C
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omo sempre o balconista viera abrir o estaminé pelas seis da
manhã, a freguesia chegava cedo para o mata-bicho. Os trabalhadores emborcavam
o desjejum, um cálice avantajado de bagaço rijo especial da terra em garrafa
sem rótulo – uma aventura e um desafio à ASAE. A Dona Filomena bem avisava o
herdeiro “talvez te lixes, nos lixemos, se os fiscais aparecem, levamos pelas
trombas com uma multa de fazer chorar as pedrinhas da calçada, senão mesmo nos
fecham o ‘stabelecimento”.
E
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ram quase sete da matina quando surgiu a Dona
Alzira com um diário em punho, esbaforida, cabelos
desgrenhados, mas eufórica, vociferando “vocês já leram o jornal?!” A resposta
foi quase um coro como o da igreja da Senhora da Azorela “Não! A gente quase
nem tem tempo para tirar as ramelas quanto mais para ler jornais!!!” E como se
fosse um fagote de coreto, outro sanfonou “e o sacana do metro rebentava pelas
costuras. Não havia espaço nem para uma folha de papel para limpar o cu…”
O
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Segismundo ainda
arriscou um tímido “mas, senhora, que faz vossemecê aqui por estas madrugadas?
Caiu da cama quando ia fazer xixi? Está doente? A farmácia de serviço não é
esta, é a Monteiro Costa, ali para os lados d…” Os decibéis abafaram a
informação que o rapaz começara a dar um tanto irónica como se podia ver.
Alzira de bigode assanhado avisou o atendedor “deixa-te graçolas parvas que o
caso é mesmo muito sério!” “ E voltando-se para os das gargalhadas “e vocês, silêncio,
se querem ouvir o que vou ler. Nem um pio!"
A
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ssentou os óculos de ver ao perto na cana do nariz e começou
na primeira página em letras grandíssimas:
ÚLTIMA
HORA!
ASSALTO A ATM e depois em
mais pequenas e logo em baixo
Meliantes foram presos pela PSP
Judiciária já tomou conta do caso
Tudo sobre o crime
em rigoroso exclusivo nas páginas 8 e 9
O
silêncio era de cortar à faca. Suspensso, um verdadeiro suspensso,
e o Segismundo, suspense e a Dona Alzira de viés e sem mexer os lábios, a gente
já acerta as contas… Nas páginas 8 e 9 com muitas gravuras
ÚLTIMA
HORA!
Presos assaltantes de
ATM
O
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ntem, pelas 22 horas e
poucos minutos na rua Xisto Benevides, junto ao supermercado “Pague três leve
dois”, o ATM que ali existe foi assaltado com recurso a dinamite. A enorme detonação
foi ouvida em toda a vizinhança, tendo-se verificado vidros partidos e outros
prejuízos. Felizmente não se registaram vítimas humanas.
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Preso pela PSP |
O
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s três assaltantes foram presos pela PSP que acorreu de imediato ao local, dois imediatamente e
terceiro, que se pôs em fuga, cerca de cinco minutos foi também capturado com a
ajuda de populares que tinham conseguido agarrá-lo na esquina com a travessa de
Boliqueime. Um quarto que conduzia uma carrinha estacionada perto destinada à
fuga dos meliantes foi ainda aprisionado e a viatura, apreendida, deu entrada
na garagem da Policia.
T
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odos os quatro desceram aos
calabouços da PSP. Foram deviamente identificados: Joaquim Sinfrónio que dá
pelo nome de Jaquim Braboleta, Jorge Mascarenhas, o Jota Pintarolas, o Zé
Palhinha, aliás José Maurício e o condutor Fernando Costa, o Chico Volante. Um
guarda da PSP que parece estar implicado na ocorrência, cuja identificação não
se revela por motivos da investigação, mas que tudo indica que será familiar de
um dos meliantes também foi preso. O assunto já passou para as mãos da Polícia
Judiciária. O nosso jornal, que é o primeiro e em rigoroso exclusivo a dar a
notícia, acompanhará, passo e passo todas as diligências que forem sendo efectuadas
pelas entidades policiais. E, sempre em cima da hora, delas dará conhecimento
atempado aos nossos leitores, através do nosso site www.notnot.pt na Internet.
P
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rimeiro
foi um espanto em que nem se ouvia o zumbir duma varejeira; depois um aahhh
sussurrado, finalmente um coro misto de palmas e gargalhadas, desafinadas q.b.,
mas entusiásticas. Houve até quem propusesse levar a Dona Alzira em ombros, “como
si ella fuera el grande Manolete salindo de la Maestranza después de
una faena divina”. A intenção e a corresponde afirmação era, claro, do
Paco Rodríguez. electricista natural de Merida que viera para a cidade portuga há
mais de 20 anos por mor de uma empreitada e por cá casara com uma portuguesa a
quem fizera quatro filhas e um filho e onde ficara, integradíssimo na vida
lusitana.
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Batalha de Aljubarrota em cinema aos copos |
S
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ó
se chateava quando lhe perguntavam por Aljubarrota… “¿Pero, qué Aljubarrota es esa? ¿Qué porras és? ¿Donde queda? ¿Qué pasó por alli?” Do Santo Contestável, oops,
Condestável – nunca existira, ou, pelo menos, nunca ouvira nada a respeito
dele… Para a malta portuguesa, em
esmagadora maioria, o eemplo mais frisante era o do Fernando Santos depois de
ganhar o Europeu e não era preciso dizer mais nada. Batalhas, mosteiros, reis,
generais e santos aparte, os ânimos aqueceram e por uns milímetros quase
chegaram a vias de facto.
D
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ona
Filomena saiu da cozinha e veio deitar água na fervura “Rapazes não estão a
ver? A notícia trazida pela Dona Alzira é a prisão dessa gentinha que tentava
assaltar a mánica (é máquina
minha mãe) que distribuí as massas. E entre eles, o Jota e o Braboleta… que tanto nos têm chateado os
filhos da mãe. E o pessoal “das mãezinhas deles…)
F
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oi
o bom e o bonito! A plebe até revirou os olhos! Bem alimbrado (e o Segismundo
em sotto voce lembrado) uma salva de palmas uns bravos, vivá Dona Filomena!
Viváaa!!! Uma estátua, uma estátua para a Dona Filomena com uma panela em
punho! Ou quiçá um tacho. E porque não uma frigideira? As ideias dividiam-se porque a gentil senhora ficaria bem com qualquer utensílio gastronómico e mesmo se ele sairia a preceito. O Cristiano Ronaldo, o Camões e o Eça tinham. Por que bulas não havia de
a ter a dona Filomena? E já agora a Dona Alzira que bem a merecia, Também.