2016-12-18




Antunes Ferreira

S
exta-feira, 13, era um dia aziago, pelo menos diziam os entendidos. Em que matéria? Para se obter uma resposta, dizia a Dona Alzira havia que consultar o padre António Fontes, mentor e fundador do Congresso de Medicina Popular de Vilar de Perdizes, que tivera a sua XXIX edição e que tinha “coisas”
Sem legenda
e mezinhas para tudo desde emplastros para dores nas cruzes até póses para desencontros de amor, rezas em cruzes destinados a divórcios não desejados, traições maritais e mulherais, e tercenas a Santo Ifigénio d’Alfarrobeira para encontrar  objectos perdidos e não achados.
Padre Fontes


D
esde já há que esclarecer que o padre Fontes era figura de monta no concelho de Montalegre e em especial na freguesia de Vilar de Perdizes. O Congresso fora-se transformando durante os seus 29 anos numa feira onde se podia comprar tudo o que acima consta; as diversas barracas tinham os apetrechos mais apetecidos para datas especiais. Havia bruxas e fadas e até se comemorava o Halloween – que era o dia delas. Era uma festa com grupos regionais, harmónios, bombos e bimbos.


N
aquela sexta-feira, 13, resmoneava o Segismundo sobre o raio do tempo, nem chuva, nem sol, uma merda. O rapaz mantinha-se solteiro, até se dizia que era panilas, mas era boato ignóbil, até gostava de fêmeas, mas de passatempo, porque alianças na mão esquerda eram sinónimo de prisão e ele não estava para aí caído. Ver o Sol aos quadradinhos matrimoniais não o entusiasmava e ele lá tinha as suas razões, com o desespero da dona Filomena que não sossegava enquanto não tivesse neto, bastava-lhe um, mas se viessem mais… onde se cria um criam-se sete… E o filho “moita-carrasco…”

Um desafio à ASAE


C
omo sempre o balconista viera abrir o estaminé pelas seis da manhã, a freguesia chegava cedo para o mata-bicho. Os trabalhadores emborcavam o desjejum, um cálice avantajado de bagaço rijo especial da terra em garrafa sem rótulo – uma aventura e um desafio à ASAE. A Dona Filomena bem avisava o herdeiro “talvez te lixes, nos lixemos, se os fiscais aparecem, levamos pelas trombas com uma multa de fazer chorar as pedrinhas da calçada, senão mesmo nos fecham o ‘stabelecimento”.


E
ram quase sete da matina quando surgiu a Dona Alzira com um diário em punho, esbaforida, cabelos desgrenhados, mas eufórica, vociferando “vocês já leram o jornal?!” A resposta foi quase um coro como o da igreja da Senhora da Azorela “Não! A gente quase nem tem tempo para tirar as ramelas quanto mais para ler jornais!!!” E como se fosse um fagote de coreto, outro sanfonou “e o sacana do metro rebentava pelas costuras. Não havia espaço nem para uma folha de papel para limpar o cu…”


O
 Segismundo ainda arriscou um tímido “mas, senhora, que faz vossemecê aqui por estas madrugadas? Caiu da cama quando ia fazer xixi? Está doente? A farmácia de serviço não é esta, é a Monteiro Costa, ali para os lados d…” Os decibéis abafaram a informação que o rapaz começara a dar um tanto irónica como se podia ver. Alzira de bigode assanhado avisou o atendedor “deixa-te graçolas parvas que o caso é mesmo muito sério!” “ E voltando-se para os das gargalhadas “e vocês, silêncio, se querem ouvir o que vou ler. Nem um pio!"


A
ssentou os óculos de ver ao perto na cana do nariz e começou na primeira página em letras grandíssimas:

ÚLTIMA HORA!
ASSALTO A ATM e depois em mais pequenas e logo em baixo
Meliantes foram presos pela PSP
 Judiciária já tomou conta do caso
Tudo sobre o crime em rigoroso exclusivo nas páginas 8 e 9

O silêncio era de cortar à faca. Suspensso, um verdadeiro suspensso, e o Segismundo, suspense e a Dona Alzira de viés e sem mexer os lábios, a gente já acerta as contas… Nas páginas 8 e 9 com muitas gravuras

ÚLTIMA HORA!
Presos assaltantes de ATM

O
ntem, pelas 22 horas e poucos minutos na rua Xisto Benevides, junto ao supermercado “Pague três leve dois”, o ATM que ali existe foi assaltado com recurso a dinamite. A enorme detonação foi ouvida em toda a vizinhança, tendo-se verificado vidros partidos e outros prejuízos. Felizmente não se registaram vítimas humanas.

Preso pela PSP


O
s três assaltantes foram presos pela PSP que acorreu de imediato ao local, dois imediatamente e terceiro, que se pôs em fuga, cerca de cinco minutos foi também capturado com a ajuda de populares que tinham conseguido agarrá-lo na esquina com a travessa de Boliqueime. Um quarto que conduzia uma carrinha estacionada perto destinada à fuga dos meliantes foi ainda aprisionado e a viatura, apreendida, deu entrada na garagem da Policia.   

T
odos os quatro desceram aos calabouços da PSP. Foram deviamente identificados: Joaquim Sinfrónio que dá pelo nome de Jaquim Braboleta, Jorge Mascarenhas, o Jota Pintarolas, o Zé Palhinha, aliás José Maurício e o condutor Fernando Costa, o Chico Volante. Um guarda da PSP que parece estar implicado na ocorrência, cuja identificação não se revela por motivos da investigação, mas que tudo indica que será familiar de um dos meliantes também foi preso. O assunto já passou para as mãos da Polícia Judiciária. O nosso jornal, que é o primeiro e em rigoroso exclusivo a dar a notícia, acompanhará, passo e passo todas as diligências que forem sendo efectuadas pelas entidades policiais. E, sempre em cima da hora, delas dará conhecimento atempado aos nossos leitores, através do nosso site www.notnot.pt na Internet.


P
rimeiro foi um espanto em que nem se ouvia o zumbir duma varejeira; depois um aahhh sussurrado, finalmente um coro misto de palmas e gargalhadas, desafinadas q.b., mas entusiásticas. Houve até quem propusesse levar a Dona Alzira em ombros, “como si ella fuera el grande Manolete salindo de la Maestranza después de una faena divina”. A intenção e a corresponde afirmação era, claro, do Paco Rodríguez. electricista natural de Merida que viera para a cidade portuga há mais de 20 anos por mor de uma empreitada e por cá casara com uma portuguesa a quem fizera quatro filhas e um filho e onde ficara, integradíssimo na vida lusitana.


Batalha de Aljubarrota em cinema aos copos 



S
ó se chateava quando lhe perguntavam por Aljubarrota… ¿Pero, qué Aljubarrota es esa? ¿Qué porras és? ¿Donde queda? ¿Qué pasó por alli?” Do Santo Contestável, oops, Condestável – nunca existira, ou, pelo menos, nunca ouvira nada a respeito dele…  Para a malta portuguesa, em esmagadora maioria, o eemplo mais frisante era o do Fernando Santos depois de ganhar o Europeu e não era preciso dizer mais nada. Batalhas, mosteiros, reis, generais e santos aparte, os ânimos aqueceram e por uns milímetros quase chegaram a vias de facto.


D
ona Filomena saiu da cozinha e veio deitar água na fervura “Rapazes não estão a ver? A notícia trazida pela Dona Alzira é a prisão dessa gentinha que tentava assaltar a mánicamáquina minha mãe) que distribuí as massas. E entre eles, o Jota e o Braboleta… que tanto nos têm chateado os filhos da mãe. E o pessoal “das mãezinhas deles…)

À Dona Filomena


F
oi o bom e o bonito! A plebe até revirou os olhos! Bem alimbrado (e o Segismundo em sotto voce lembrado) uma salva de palmas uns bravos, vivá Dona Filomena! Viváaa!!! Uma estátua, uma estátua para a Dona Filomena com uma panela em punho! Ou quiçá um tacho. E porque não uma frigideira? As ideias dividiam-se porque a gentil senhora ficaria bem com qualquer utensílio gastronómico e mesmo se ele sairia a preceito.  O Cristiano Ronaldo, o Camões e o Eça tinham. Por que bulas não havia de a ter a dona Filomena? E já agora a Dona Alzira que bem a merecia, Também.