2017-11-11

A camija
e o cajaco

Antunes Ferreira
A estória passa-se em Vila Marim que é uma freguesia do concelho de Vila Real de Trás-os-Montes do distrito de Trás-os-Montes (olá isto esta a começar mal, pois lá começam as confusão muito habituais nos textos do autor). A ti Ludovina, solteirona, tinha dois sobrinhos, o Manel e o Quim, jovens, um deles comemorara 14 risonhas  Primaveras, o Manel, o Jaquim ainda as veria chegar. Meio crianças, meio adolescentes eram, desde o tempo das fraldas, companheiros nas diabruras, sobretudo amigos.


Há que dizer que Vila Marim - como todos os Trás-os-Montes – era especializada em castanhas, amendoeiras enchidos e bom vinho, o que aliás acontece em todo País, tinha um orgulho: as amendoeiras em flor eram irmãs gémeas das ditas cujas do Algarve, não tinham invejas adoravam-se e faziam com que os turistas também as adorassem na época das flores.


Asterix e Obelix


 Os transmontanos, gente boa, diziam que para além do Marão só mandam os que lá estão…o que se assemelhava com o Asterix e o Obelix, na sua aldeia irredutível na Gália onde os romanos nunca entravam porque os gauleses possuíam uma poção mágica que lhes dava uma força tremenda e por isso lhes davam umas cacetadas valentes. Porém a acção não decorria na Gália, mas sim em Trás-os-Montes. O seu único medo era que o céu lhes caísse na cabeça e dando de barato que os senhores Goscinny & Uderzo não viviam em Vale Marim, viviam em França. Publicaram o primeiro álbum parido pela parceria em 1959.

Deles está tudo dito, aliás não está porque os heróis deles, ou seja o Asterix e o Obelix, tiveram um enorme êxito com traduções em mais de uma centena de línguas – incluindo o mirandês – línguas e com 350 milhões de exemplares o que é um espanto  assim ficaram de 1952 até hoje. Tal era o entusiasmo que Goscinny ter falecido & Uderzo estar com 87 aninhos (abençoado seja) e logo surgiram sucessores deles. Por isso já estão publicados 33 álbuns e anunciaram estes que para o ano que vem vai sair um novo. Informaram que ano após ano, de 365 a 365 dias poder-se-á um que de modo bem elucidativo um recente álbum dos heróis gauleses virá à escada. Este ano foi publicado o "Astérix e a Transitálica” (não digam nada mas a Wikipédia e uma ajudante …de cinco estrelas)

Amendoeiras em flor
 Como se ia dizendo as amendoeiras em flor são muito fixes. Muitos milhares de turistas são um exemplo das flores brancas que parecem que as árvores estão cobertas de neve. Vila Marim não escapa ao milagre porque o tempo também nela aprecia-se até ao infinito. Também nem tanto ao mar nem tanto à terra. E com os exageros não se vai a nenhuma parte. É como de dizer que o Benfica vai voltar a ganhar a Liga. Se calhar a da Jarreteira…

Vamos lá ver, a clubite e as claques organizadas deveriam ser objecto de sanções. Deveriam… Porém o apito doirado do Senhor P da C deu em águas de bacalhau e parece suceder com o caso dos e-mails ou o da fruta. Enfim isto quer dizer que Portugal é um país muito bondoso… Não sabemos fazer mal a ninguém. Pelo contrário desculpamos toda a malta como se fossemos a conferência de São Vicente de Paulo, abrigamos os que disso precisam iguais à Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, resumindo, somos uns gajos à maneira.

Em Trás-os-Montes, em Vila Real, Bragança, Mirandela, e ondas curtas em 17 mHz e outras localidades, os transmontanos são amistosos, amigos e recebem bem os forasteiros. Têm palavras esquisitas; por isso há uma “língua” transmontana… Um cibo (é um bocado) de pão com manteiga, C’massim (assim sendo) vou-me andando até a minha casa, c’moquera (pode ser que) Cuidado! Não te metas e-te com aquele sacana ainda levas uma saranda (um enxurro de porrada), Bilhó (puto) Este bilhó é muito chato.

Bruno & Jesus

Para a gente “normal”, para entender a “língua” transmontana é preciso usar um dicionário; entretanto há o caso do Jorge Jesus que fala tão coplicado que é preciso usar um tradutor de jesusês para português … E se este “mister” fosse treinar uma equipa estrangeira sei lá onde? Por exemplo em Espanha; obviamente teria de levar dois tradutores: um do jesusês para português e outro de português pra o castelhano. Ele há dias em que um cidadão não deve sair à noite.

Bom, volte-se à estória do Manel e do Quim em Vila Marim (tem piada, o autor não deu conta e acabou de poemar) onde o avô deles não tinha um quintal, tinha um quintalão e nele plantara um castanheiro, uma pereira, duas macieiras e uma diospireira maila uma horta de múltiplas hortaliças, couves, feijões-verdes, cebolas, cenouras e outras miudezas: salsa, coentros e hortelã. O avô Florêncio ficava muito contente quando tinha nas férias grandes os dois netos, malandretes como o diabo, também conhecido por belzebu, mas só para os amigos do peito.

Castanheiro


Ora um dia o Manel e o Quim foram-se ao castanheiro e começaram a comer castanhas (normalmente um castanheiro não dá melancias ainda que haja alguns que dão coconuts também conhecidos por cocos, só para contrariar); foi uma orgia castanhal. Enquanto não passavam ao estatuto dos vómitos, os dois bilhós (vejam como o autor sabe falar transmontanhês, do que muito se orgulha)  começaram a trocar mimos ainda empoleirados nos ramos da árvore transmontanhesa.

O Manel para o Quim: ó Quim eu cá comi mais castas docatu; o Quim para o Manel: ó Manel quem comeu mais delas fui eu. Pronto, fora o início duma discussão que terminaria assim: Ó Manel ê cá comi-as com camija e outro retorquindo: Porra, e ê comi-as cucajaco. A divisão deles  persistia … e persiste até aos nossos dias.