À noite
mata
ATENÇÃO: Esta é
uma estória verídica que
tem como protagonistas exclusivos
o autor e dois dos seus netos e
aconteceu
em minha casa aqui ao Lumiar em Lisboa
. Não querendo enfatizar a
importância dos dois
malandros que formam o par com
que me defrontei (e eles merecem que não
os ignore), tenho de confessar que um deles
foi o actor principal foi enredo acompanhado
do outro; o infeliz fui eu. Muito obrigado
Antunes Ferreira
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á quem diga que há tempo para tudo: trabalhar (coisa que cansa muito),
estudar (que não cansa menos) brincar, namorar, amar, comprar e vender, ler e
escrever; mas não se pode ignorar que também o há para comer. Aliás este verbo
transitório tem muito que se lhe diga. Comer é essencial para a vida de um
qualquer animal incluindo, claro, o inteligente. Come-se quase tudo. Os
chineses dizem que uma coisa com quatro patas e que não seja uma mesa, eles comem
e uma coisa que voa, exceptuando um avião, também eles comem
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oncluindo: a laranja obviamente come-se; depois de descascada,
os gomos são uma
delícia. Eu, pelo menos penso assim; mas tenho a certeza que
muito boa gente-esta comigo neste particular, ou seja comer laranjas. No
entanto também existe muito pessoal que não participa nesta posição; por
exemplo os que não gostam delas, e os que até as odeiam. Costumo dizer que toda
a regra tem excepções.
O descasque prévio |
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epois destes prolegómenos, o motivo que me traz aqui a estacada
é justamente o comer laranjas. Explico: estava eu, depois de um jantar opíparo
de malga de sopa de legumes, sem batata, os dietistas e os naturalistas são
cada vez mais perigosíssimos, acompanhado de meia fatia de pão integral,
preparando-me para comer uma laranja. A preparação inclui naturalmente o
descasque prévio; porém já o fizera e estava prestes a engorgitar o primeiro gomo quando chegaram o
Rodrigo e o Vicente que como habitualmente estavam na nossa casa o que a Raquel
e eu adoramos.
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omeçou então um drama existencial que feliz e obviamente não
meteu agressões muito menos armas brancas ou pretas, não sou adepto de quaisquer
apartaides. Apenas um impositivo, avô
não faça isso! E o primo e
companheiro de pleiseteichões, Vicente, mirava-me com ar suspeito embora
complacente. Essa gora, por que bulas não hei-de comer tranquilamente uma laranja?
Pois se até a Dona Amélia dietista ma aconselhou, disse-me que o posso e devo fazer
porque contém fibras poucas calorias, a volta de cinquenta e…
À noite mata... |
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odrigo interrompeu-me: avô não se trata disso, eu bem sei os
benefícios da laranja (o tipo já fez o segundo ano da Faculdade de Motricidade
Humana e não sei mais quê que no antigamente era o INEF e que depois escolheu a
especialidade de treinador de futebol (argolada: é coisa que há mais do que advogados
no inferno...) E o moço explicou todo impante: de manhã a laranja é ouro; à
tarde é prata e à noite mata! Abri a boca – sem meter o gomo, pelo sim,
pelo não – e perguntei-lhe onde é que ele aprendera isso. Em Estremoz em casa
do avô Parreira. (que é o pai da Margarida casado com o meu primogénito Miguel,
logo avô do Rodrigo e do João e por isso meu compadre, aliás muito fixe)
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á não se pode confiar em ninguém nem na própria sombra,
assim vai o mundo. A nomeação do Senhor Dr. Durão Barroso para presidente não
executivo do banco que manda no Mundo, ou seja o Goldman Sachs, é disso exemplo
flagrante. No caso vertente não podia
dizer que não confiava no meu compadre Parreira, pois ele podia melindrar-se,
embora não creia nesse melindre. Perante o dilema como ou não como retirei-me
para a cozinha onde muitas vezes tomamos as refeições e regalei-me com a
laranja da Bahia (sem grainhas) que é uma falsidade pois ela vem do Algarve.