2016-07-08

À noite mata



ATENÇÃO: Esta é uma estória verídica que
tem como protagonistas exclusivos
o autor e dois dos seus netos e aconteceu
 em minha casa aqui ao Lumiar em Lisboa
. Não querendo enfatizar a importância dos dois
malandros que formam o par com
 que me defrontei (e eles merecem que não
 os ignore), tenho de confessar que um deles
 foi o actor principal foi enredo acompanhado
 do outro; o infeliz fui eu. Muito obrigado




Antunes Ferreira

H

á quem diga que há tempo para tudo: trabalhar (coisa que cansa muito), estudar (que não cansa menos) brincar, namorar, amar, comprar e vender, ler e escrever; mas não se pode ignorar que também o há para comer. Aliás este verbo transitório tem muito que se lhe diga. Comer é essencial para a vida de um qualquer animal incluindo, claro, o inteligente. Come-se quase tudo. Os chineses dizem que uma coisa com quatro patas e que não seja uma mesa, eles comem e uma coisa que voa, exceptuando um avião, também eles comem



C
oncluindo: a laranja obviamente come-se; depois de descascada, os gomos são uma 
delícia. Eu, pelo menos penso assim; mas tenho a certeza que muito boa gente-esta comigo neste particular, ou seja comer laranjas. No entanto também existe muito pessoal que não participa nesta posição; por exemplo os que não gostam delas, e os que até as odeiam. Costumo dizer que toda a regra tem excepções.

O descasque prévio



D
epois destes prolegómenos, o motivo que me traz aqui a estacada é justamente o comer laranjas. Explico: estava eu, depois de um jantar opíparo de malga de sopa de legumes, sem batata, os dietistas e os naturalistas são cada vez mais perigosíssimos, acompanhado de meia fatia de pão integral, preparando-me para comer uma laranja. A preparação inclui naturalmente o descasque prévio; porém já o fizera e estava prestes  a engorgitar o primeiro gomo quando chegaram o Rodrigo e o Vicente que como habitualmente estavam na nossa casa o que a Raquel e eu adoramos.


C
omeçou então um drama existencial que feliz e obviamente não meteu agressões muito menos armas brancas ou pretas, não sou adepto de quaisquer apartaides. Apenas um impositivo, avô não faça isso! E o primo e companheiro de pleiseteichões, Vicente, mirava-me com ar suspeito embora complacente. Essa gora, por que bulas não hei-de comer tranquilamente uma laranja? Pois se até a Dona Amélia dietista ma aconselhou, disse-me que o posso e devo fazer porque contém fibras poucas calorias, a volta de cinquenta e…

À noite mata...



R
odrigo interrompeu-me: avô não se trata disso, eu bem sei os benefícios da laranja (o tipo já fez o segundo ano da Faculdade de Motricidade Humana e não sei mais quê que no antigamente era o INEF e que depois escolheu a especialidade de treinador de futebol (argolada: é coisa que há mais do que advogados no inferno...) E o moço explicou todo impante: de manhã a laranja é ouro; à tarde é prata e à noite mata! Abri a boca – sem meter o gomo, pelo sim, pelo não – e perguntei-lhe onde é que ele aprendera isso. Em Estremoz em casa do avô Parreira. (que é o pai da Margarida casado com o meu primogénito Miguel, logo avô do Rodrigo e do João e por isso meu compadre, aliás muito fixe)   


J
á não se pode confiar em ninguém nem na própria sombra, assim vai o mundo. A nomeação do Senhor Dr. Durão Barroso para presidente não executivo do banco que manda no Mundo, ou seja o Goldman Sachs, é disso exemplo flagrante.  No caso vertente não podia dizer que não confiava no meu compadre Parreira, pois ele podia melindrar-se, embora não creia nesse melindre. Perante o dilema como ou não como retirei-me para a cozinha onde muitas vezes tomamos as refeições e regalei-me com a laranja da Bahia (sem grainhas) que é uma falsidade pois ela vem do Algarve.