Uma
(quase) Feira Pré-Histórica
Antunes Ferreira
Desde
há uns tempos que vinha matutando numa peregrina ideia fruto de notícias
recorrentes que iam aparecendo em diferentes meios de comunicação ou para ser
mais correctamente político media – leia-se por favor mídia – as feiras
medievais. Pois se por todo o santo país (ou por quase, quase, quase todo) elas
proliferam quais cogumelos e ainda por cima sem esporos, por que bulas o meu
bairro não haveria de ter direito de organizar uma à maneira com todos os éfes
e érres necessários e suficientes para surtir uma maravilha? Porquê?
Deitei
mãos ao trabalho. De resto, permitam-me que vos diga que essa estória da
reforma significar ripanço, sofá, mãos placidamente cruzadas na barriga, dormitando
em frente do televisor mas atenção com uma bejeca ou um copo de uísque (agora é
mais gin) de preferência gozando as delícias do ar condicionado, isto nos
finais do Outono ou no Inverno.
Um perigo mundial |
O pior
é que apesar do mister Trump - um perigo mundial - dizer que não há nada e o dólar é very strong tudo indica que já pouco
resta das estações do ano o que resta é cada vez mais duvidoso, são dias
miseráveis absolutamente ao contrário do que deviam ser, tímida Primavera ou no
dúbio Verão, estendido numa espreguiçadeira, munido dos mesmos ingredientes no
estado líquido, óculos escuros e protector solar. Se eu fosse rico teria um
escravo núbio a abanar-me com um grande leque de penas de avestruz no pino do calor
que agora é muito por mor de uma massa de ar quente que não é tagliatelle ou
fusilli ou sequer o comezinho e nacional esparguete.
Porém,
a Graça coliponense escreveu há meses sobre a proliferação ridícula das feiras
medievais; escreveu e bem mas deixou-me enrascado. Passo a explicar. Lá se foi
a intenção à vida e logo ela que me parecia uma coisa janota, até mesmo bué
fixe. Mas nada de desanimar. E decidi mudar a agulha tal como fazem os senhores
dos eléctritos da Carris para uma feira pré-histórica. Mas, para atingir esse
desiderato tinha obviamente de estudar e para tanto documentar-me.
O lugar onde devia já estar |
Não
estamos de modo nenhum na época dos dinossauros, aliás quem disso sabe é o
prof. Galopim a quem comecei por mandar um imeile pedindo-lhe auxílio para a
empreitada a que metera ombros, para ser mais correcto cabeça, tronco e membros
(incluindo obviamente os ombros). Resultado: zero, pior só o famigerado BdeC.
Refiro-me naturalmente ao resultado. Mas não desarmei.
Como
é evidente o energúmeno ex-presidente do meu Sporting Clube de Portugal (o
único a quem isso aconteceu!) que ainda está em liberdade mas já devia
encontrar-se a ver o sol aos quadradinhos também tentou participar na Feira mas
obviamente como manda chuva dela. Uma vez mais saiu-se mal porque eu estava
avisado das trampolinices do sacana. E quem não estaria, tantas têm sido? Basta
que se veja o que o pulha tem vindo a fazer ao Sporting tentando desestabilizar
o clube do meu coração.
Sem legenda |
Numa
altura em que o empreendorismo é factor determinante para alcançar os
objectivos a que um cidadão se propõe (não é assim que dizem os futebolistas
nas flash interviews?) consultei o
Manual do Empreendedor do IAPMEI e retirei dele as duas expressões seguintes
nas suas versões inglesa e portuguesa. Ora vejam:
«There are gaps in the market which need to be
filled especially at the start-up stage
Ora o mercado apresenta lacunas que devem ser colmatadas
nomeadamente na fase de lançamento e
From this point of view, I support the
programme of start-up facilities for
small SMEs.
Nesta perspectiva, apoio o programa de mecanismos de apoio ao
arranque, destinado às pequenas PME.»
Nada mais claro, onde se lê PME leia-se feira pré-histórica
e está feito.
Agora
só me faltava avançar. Ora dois quarteirões acima do meu há um terreno devoluto
cuja proprietária é a Junta da Freguesia e por isso fiz um requerimento ao
Excelentíssimo Senhor Presidente dela, aliás um engenheiro reformado com muito
bom aspecto rogando-lhe autorização para utilizar durante três meses o dito
cujo terreno e explicando-lhe o motivo do pedido.
Foi
tiro e queda. Em três dias saiu o deferimento acompanhado de um aditamento em
que a Junta se punha à disposição para qualquer ajuda que fosse necessária
exceptuada qualquer contribuição monetária, que era o de que mais necessitava.
Mas postas ao corrente dele as forças vivas e até uma agência funerária
aceitaram entrar com umas massas, sendo que o dono do talho A Posta Mirandesa,
o senhor Adosindo, que era portuense, afirmou que por ele não haberia qualquer
problema com o guito, carago.
Sol e Estrela |
Abreviando,
o Lim Pó Pó da loja chinesa Sol e Estrela forneceria o esferovite para fazer as
cavernas para os homo sapiens que seriam desenhadas e montadas pelos senhores
Konstantin Bulgokov, Yvan Mykolev e Nikolai Kostalov, porteiros búlgaros de
prédios adjacentes, arquitecto, engenheiro e médico, aguardando regularização
profissional. Os feirantes usariam trajes condicentes feitos de peles
sintéticas obviamente fornecidas por empréstimo a contrato pelo senhor Lim Pó Pó, com garantia de devolução em bom estado, em caso contrário pagamento, do
tipo futebolistas.
Tudo
seguia de feição quando o Serafim do Apito Encarnado, restaurante/bar com jogos
da Santa Casa disse ao Meia Leca do Laranjinha que havia mosquitos por cordas
quanto às tasquinhas para vendas na feira. Tinha ficado acordado que só seriam
produtos originários de regiões das feirantes os quais pagariam uma taxa para
ali exporem os respectivos bens à venda. Fora aberta apenas uma excepção: como estava na berra haveria uma tasquinha vegan. Mas o que começara a correr era que
havia moscambilha e da grossa.
Sem legenda |
E além
disso o ajudante Marquinhos da Farmácia Vida Saudável que queria vender fruta
alegadamente duma quinta que tinha em Alcobaça, o que era uma redonda trapaça e
que face às dimensões do animal ou seja eu dissera que estava encontrado o
Argentinossaurus, cujo fóssil fora encontrado na Argentina e que pesava entre
as sessenta e as cem toneladas.
Face
a isto e entre um processo crime em local próprio, uma providência cautelar (não sei bem para quê, mas está na moda) agressão qualificada ou
desistência do projecto, com muita pena optei pela última. R.I.P.
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