2016-10-20

Governo
está
de rastos…

Antunes Ferreira
A
ndam por aí magotes de especialistas sobre orçamentos e temas que se lhes relacionam, numa demonstração evidente de que Portugal deixou de ser um país de poetas para passar a ser um país de economistas e financeiros – a maioria dos quais, infelizmente, desempregados. E uma significativa parte destes é, como habitualmente se sabe, patrocinadora da desgraça, alertadora de tsunamis económico-financeiros que vêm aí, coveira do Orçamento 2017, em suma defensora do cataclismo universal, disfarçado de democracia. Que, afinal até à data, felizmente não tem chegado

N
ão falo por falar, falo por experiência própria: em 1995 como assessor para a comunicação social do então ministro das Finanças passei 58 horas, sem dormir, no Terreiro do Paço, para acompanhar o processamento da última versão do danado OE. E não participava na elaboração do…documento. Porém, já integrei a equipa do ministro que foi à Assembleia da República entregá-lo na versão (ainda) em pastas. Futuramente teria de esclarecer os jornalistas sobre os pontos fulcrais do OE… E só vendo podia garantir a mim mesmo que depois não meteria o pé n poça…E ai de mim que não fosse capaz des responder às perguntas mais estapafúrdias: seria sujeito às maiores torturas executadas pelo Torquemada ou por um primo muito chegado a ele importado directamente da Opus Dei, sem IVA e direitos aduaneiros Muitas vezes sentiria o meu pescoço (e o resto…) a caminho do cadafalso.

Nesta foto tirada no Parlamento há umas caras...


N
outras ocasiões também gravíssimas igualmente suspeitaria de que um cuidadoso e honesto trabalhador da Camisaria Moderna (cujas camisas não fazem pregas no peito nem rugas no colarinho) já andaria de fita métrica na dextra tirando-me as medidas certas do que ainda era o meu pescoço. De noite e em pleno Estio acordaria pejado de suores frios; pelo contrário no Inverno, mesmo Inverno a sério, os suores quentes eram tão quentes que dariam para fazer uma canja  à maneira: com galinha do campo, claro, ou um cubo Maggy  

D
izem sapientes do alto das suas cátedras e dos ecrãs em que se pavoneiam que “O Governo de António Costa está de rastos, ministros e seus apoiantes parlamentares não há um só dia que não se entendam, arrastando perigosa e penosamente o poder para o precipício!!!...” Aliás, precipício há; poder é que não se deixa arrastar. Valham-nos estas novas pitonisas televisivas, estes comentadores do mais fino trato,
JGF - O Toppo Giggio português 
analistas de inspiração cavaquista “que nunca se enganam e raramente cometem erros”. Daí até à queda do Governo não custaria nada. Segundo esses iluminados seria tiro e queda.

P
orém basta uma pequena reflexão para desmontar esta “gigantesca cabala”. Se o BE e o PCP deliberassem dar cabo do que a direita chamou “gerigonça” (termo que se vai generalizando, mas de que não gosto nada) nunca mais voltariam a ter a oportunidade que hoje têm: apoiar no Parlamento um Governo. De quem? Do PSD? Do CDS? Respondam-me, por favor…      


(Este texto devidamente adaptado foi enviado
 como habitualmente aos blogues onde colaboro
 “Sorumbático” e “A Zorra da Boavista”)