2022-12-15

  


O Diluvio 

Universal

*Os chatos da companhia 

das águas

 

Antunes Ferreira

As melhores iscas com elas que já comi na minha vida são as do Damasceno Vitoriano (raio de nome de cabo-verdiano nado e criado na Cidade Velha da ilha de Santiago e baptizado na igreja da Nossa Senhora do Rosário, construída em 1495, a mais antiga igreja colonial do mundo. E se forem acompanhadas por um Manipango tinto da ilha do Fogo não sei se vos diga, não sei se vos cante. É que se trata de um néctar de mastigar para apreciar e resolver-se numa sesta a preceito depois de rapado o tacho das iscas e terminado o repasto com um grogue à maneira.

 

Por vezes o Damasceno, o Mesquita angolano (que já citei nestes arrazoados), o Bentes moçambicano e o Noé Mascarenhas damanense juntávamo-nos no Sabores de Goa para apreciar uns picantes e à baila falarmos de pingas. Como já tive oportunidade de explicar três anos ou pouco mais afastaram-me desse excelente convívio. Mas, há quinze dias sentámo-nos de volta. E, podem crer, o dr. Vitoriano (o gajo é ginecologista) trouxe uma garrafa caseira de Manipango.

 

Conversa puxa conversa, tal como as cerejas e o Mesquita atacou risonho o Noé: “Se o teu xará bíblico ao sair da arca se tivesse agarrado uma carraspana deste tinto seriam necessários todos os filhos para o acordar e assim poder chegar aos 950 anos… O assunto bem interessante mexia comigo – e muito, pois como julgo que muito bem sabem entre os múltiplos temas culturais que tento abarcar (não sou uma Wikipédia, longe disso) a História e as suas milhentas estórias que são o seu “recheio” – o assunto, dizia, levou-me a comunicar ao grupo eu próprio me iria atirar de cabeça ao Noé, ao Diluvio, ao Velho Testamento e em apêndice ao falecido cantor Roberto Leal, um autodidata de nome que fez a ponte a cantar entre Portugal onde nascera e o Brasil para onde emigrara com doze anos, pai, mãe e mais oito irmãos.

 


O mérito a quem o merece. Nunca se tendo afirmado intelectual, Roberto Carlos  Roberto Leal, nome artístico de António Joaquim Fernandes,  foi um cantorcompositor e ator português radicado no Brasil. Era considerado embaixador da cultura portuguesa no país irmão. Ao longo da carreira de mais de 45 anos, ganhou trinta discos de ouro, além de cinco de platina e quinhentos troféuse  de acordo com diferentes fontes as suas vendas totais somam 15 milhões ou até 25 milhões de dólares

 

Chamo para aqui o seu nome devido a uma canção popularíssima de sua autoria e por ele interpretada (o que sempre acontecia nas suas actuações), canção essa que é mais um vira em que ele homenageia o vinho verde:

Ai! verdinho, meu verdinho
Já saíste da videira (bis)

Escorrega devagarinho
Apaga-me esta fogueira (bis)

Que importa o verde ser verde
Se nos faz cantar na rua

Ai! verdinho, meu verdinho
Não há cor igual à tua (bis)

Ai! verdinho, meu verdinho
Ouve bem o que te digo (bis)

Não há pedras no caminho
Quando tu andas comigo

Que importa o verde ser verde
Se nos faz cantar na rua

Ai! verdinho, meu verdinho
Não há cor igual à tua (bis)

Ai! verdinho, meu verdinho
Só tu és o meu amor (bis)

Só o verde bem verdinho
Vai à mesa do senhor (bis)

Que importa o verde ser verde
Se nos faz cantar na rua

Ai! verdinho, meu verdinho
Não há cor igual à tua (bis)

Ai! verdinho, meu verdinho
Esquecer-te não há maneira (bis)

Tu prá mim és pão e vinho
E cor da minha bandeira

Que importa o verde ser verde
Se nos faz cantar na rua

Ai! verdinho, meu verdinho
Não há cor igual à tua (bis)!!!”

Este tema das águas numa altura como esta em que as inundações por todo o país dão cabo das pessoas e dos bens relembrar o Dilúvio Universal parece-me ter todo o cabimento. Porém tenho de deixar aqui um alerta: ninguém pense que me julgo uma panaceia para os gravosos danos causados pelos caudais de águas que não foram atempadamente previstos. Talvez os que mandavam em tempos idos na Companhia das Águas fujam com o rabo à seringa…




 

 Não quer o escriba acocorado alinhavar a narrativa sobre um dilúvio encontrada no Génesis da Biblia Hebraica, Deus decide inundar a terra por causa da profundidade do estado pecaminoso da humanidade. O justo (aquele que segue as diretrizes divinas) Noé recebe instruções para construir uma arca. Quando a arca é concluída, Noé chama a sua família e representantes de todos os animais da Terra para embarcar.

 

Pode fazer-se uma ideia das filas monstruosas que se formaram. Os textos bíblicos não possuem quaisquer traços de reportagem, segundo a minha adolescente opinião. São apenas relatos factuais como dados lançados num livro de escrituração comercial. Não é que eu tivesse visto ou escrito algum, mas seguia o que me contavam quem sabia mais a dormir do que outro acordado.

 

Continuo a pesquisar pois as coisas vão-se tornando cada dia mais interessantes, No momento em que escolhera enveredar pelo caminho que tomara não previra o desenvolvimento que estava a surgir a cada momento. Quando o dilúvio destrutivo começa, toda a vida do lado de fora da arca perece. Após as águas baixarem, todos aqueles a bordo desembarcam e têm a promessa de Deus de que Ele nunca vai punir a Terra com um novo dilúvio. E deu o arco-íris como sinal desta promessa.




 

Embora não lograsse encontrar muitas fontes fiáveis a cerca de dois terços da minha investigação deparei-me com um nome que originou uma busca mais pormenorizada, o arcebispo James Ussher (*). Segundo ele, aparentemente, Noé nasceu em 2 948 a.C. e morreu com 950 anos (?????) em 1 998 a.C.. Os seus três filhos mais conhecidos eram SEM, Cam ou Cã e Jafé. A mulher de Noé (Génesis 6:18; 7:7, 13; 8:16, 18), segundo a tradição judaica não bíblica, chamava-se Noéma (Na'amah - cheia de beleza) e era cananita.

 

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 (*) No livro dos Jubileus, o seu nome é conhecido por Enzara e seria só James Ussher ou simplesmente Usher (Dublin, 4 de Janeiro de 1582 - 21 de Março de 1656) e foi um Arcebispo de Armagh. Baseando-se na Bíblia, escreveu o livro “The Annals of the World” em 1658. Nele, Ussher fez uma cronologia da vida na Terra baseada em estudos bíblicos e de outras fontes, de tal maneira que concluiu que a criação do Mundo ocorreu no dia 23 de Outubro do ano 4004 antes de Cristo (a. C.) pelo calendário Juliano. Na época, a afirmação foi amplamente aceite.


A cronologia de Ussher representou um feito considerável de erudição: exigiu grande profundidade de aprendizagem do que era então conhecido da história antiga, incluindo a ascensão dos persas, gregos e romanos, bem como conhecimento da Bíblia, línguas bíblicas, astronomia, calendários antigos e cronologia. O relato de Ussher de eventos históricos para os quais ele tinha várias fontes além da Bíblia geralmente está de acordo com as fontes modernas - por exemplo, ele situou a morte de Alexandre, o Grande em 323 a.C. e a de Júlio César em 44 a.C.

 

 A última coordenada não bíblica de Ussher foi o rei babilónico Nabucodonosor e, além desse ponto, ele teve que confiar em outras considerações. Confrontado com textos inconsistentes da Tora, cada um com um número diferente de anos entre o Dilúvio e a Criação Ussher escolheu a versão Massorética, que afirma uma história ininterrupta de transcrição cuidadosa que remonta a séculos - mas sua escolha foi confirmada para ele, porque colocava a Criação exactamente quatro mil anos antes do ano 4 a.C., a data geralmente aceita para o nascimento de Jesus. Além disso, ele calculou que o templo de Salomão deve ter sido concluído no ano 3000 desde a criação, de modo que houve exatamente mil anos do templo a Jesus, que se pensava ser o 'cumprimento' do Templo.

 

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Retorno agora à famosa arca construída pelo Noé posteriormente conhecido pelo seu amor ao sumo das uvas devidamente “preparado”. A quantidade de animais (sem marcação ou reserva) que nela iam entrando era a prova da expressão mais que muitos ficava muito além da realidade. As quezílias deviam ser permanentes bicos-de-obra e ainda por cima não havia ao que me constava bilheteiras ou muito menos agências de vendas oficiais.

 



Portanto, Noé, ainda sóbrio, ia controlando os pares que depois das águas desaparecerem (quando Deus retirasse a rolha da ciclópica banheira em que Ele transformara a Terra) pudessem – e devessem fodi…, digo, fornicar para repovoar o orbe terráqueo, quando num sobressalto medonho mandou parar o desfile. Pasmo geral. Coisa simples e explicável: era um casal de carunchos que se aprestava para entrar; a mamutica embarcação nem um piu daria com aqueles insectos roedores a bordo…




O adeus de Fernando Santos

 

Antunes Ferreira

Não é de hoje que os que ainda resistem ou andam distraídos me leem sabem que não aprecio o engenheiro eletrotécnico Fernando Manuel da Costa Santos, ex-seleccionador/treinador nacional da equipa de futebol das sete quinas. Não é que ponha em causa a sua competência profissional; é. sim, pela atitude que habitualmente assume no banco: aparentemente resignado com o que se está a passar no relvado e só em raros momentos mostrar alguma exaltação.

 

Depois existe um factor eu alta aos olhos mesmo a um treinador d sofá como é o meu caso, mante do futebol mas do qual, julgando perceber – ou mesmo saber – “umas coisas” (a minha praia, como agora se diz, foram o râguebi e a natação de competição que pratiquei) do futebol sou dos que descobriram que Fernando Santos é padrinho. Como assim?

 

Para mim, é sim, senhores, há afilhados, isto é jogadores que têm sempre lugar no time mesmo que não estejam no seu melhor nas equipas onde estão; dispenso-me de dar exemplos tão flagrantes eles são. Reconheço, no entanto, que teve e tem a coragem de ao longo do seu também longo mandato lançou muitos jovens o que é meritório e represente um saldo positivo. Mas, para mim, não basta. De uma coisa, porém, não pode ser apontado: não é corrupto!

 

O dinheiro não tem sabor nem cheiro. Mas sabe muito bem. Disse alguém que não conhecia ninguém que tivesse chegado a milionário a trabalhar. Estava errado, pelo menos por defeito. Estou abordando o tema futebolístico. Olhe-se então para o mundo do futebol  mais atentamente para o Qatar onde no domingo termina o Mundial 2022. Como foi lá ‘parar a maior?

 


E logo surge o nome d Joseph Blatter, o ex-presidente da Federação Internacional e Futebol (FIFA) com o qual os dirigentes ditatoriais do emirado acertaram a realização do maior evento futebolístico mundial no país para lavar a cara internacionalmente ao regime – e conseguiram-no. Nos dias que correm que dizer do comportamento ainda em relação com o Qatar da grega Eva Kali uma das vice-presidentes do Parlamento Europeu, agora em prisão preventiva?

 

Por essas e por outras a saída de Fernando Santos deve ser registada seriamente e com a devida nota, mas ressalvando que ela nada tem que ver com dinheiros ilegalmente metido na sua(s) conta(s) bancária(s). Porém, já depois de escrito este texto descobri duas coisas que me apresso agora mesmo a acrescenar. O acordo estabelecido com a Federação Portuguesa de Futebol incluiu o pagamento a Santos a quantia de SETE MILHÕES DE EUROS pela antecipação do final do contato de trabalho que ia até 2024. Tudo bem, é a lei.. Mas e aí é que tenho sérias reservas também foram perdoadas ao ex-trabalhador TODAS AS DÍVIDAS FISCAIS que ee tinha!!!!  Essa agora? Então um "funcionário público" vive tranquilo com dívidas ao Estado? "No comments" - diria o "velho" Jimmy Hagan. Daí que transcreva a breve publicada pela revista senal “Visão”:     

 

«Adeus, MisterDepois de uma derrota nos quartos de final do Mundial2022, e dois jogos em que deixou Ronaldo no banco, Fernanando Santos deixou o comando técnico da selecção portuguesa. Foram oito anos à frente da equipa das ‘quinas’, com sucessos e alguns amargos de boca. “Além dos títulos conquistados, Fernando Santos tornou-se o selecionador com mais jogos e mais vitórias. Foi uma honra ter podido contar com um treinador e uma pessoa como Fernando Santos na liderança da seleção nacional”, refere a Federação Portuguesa de Futebol em comunicado. Em 109 jogos, Fernando Santos conseguiu 67 vitórias, 23 empates e 19 derrotas. Agora, começam a surgir nomes alternativos. Quem será o senhor que se segue?  José Mourinho está na linha da frente dos favoritos.»

Sinceramente não acredito que Mourinho aceite tal incumbência. Primeiro porque já disse que só o faria lá para o final da sua carreira (salvo erro ou omissão d minh parte); segundo porque não viria meter-se num ninho de víboras – pois o que não falta por cá são serpentes venenosas…