Um exemplo de jornalismo
Ó Gonçalo
anda daí
Antunes Ferreira
Um
gajo bué fixe. Modernice que define bem – na modestíssima opinião de quem se
atreve a usá-la – o cidadão em causa que é o Gonçalo Pereira Rosa um Homem que,
salvo as devidas proporções e situações é comparável ao bacalhau pois em vez
das mil e uma maneiras de preparar este, ele usa e abusa dos ofícios e
correlativos. É um fartote.
Conhecemo-nos
no ano passado e encontrámo-nos na “Flor do Lumiar”, uma pastelaria/padaria, a
duzentos/trezentos metros de minha casa, o convite fora do Gonçalo pois
dissera-me por telefonema que gostaria de me entrevistar sobre uma
conversa/entrevista que eu tivera com o Lech Walesa em Gdansk quando ali me
deslocara em serviço ao Diário de Notícias de Lisboa de que era então o Chefe
da Redacção adjunto.
Mal
nos sentámos senti que tinha sido “vítima de uma faísca eléctrica” e que, na
verdade era o imediato e instantâneo começo de uma empatia que logo depois se
transformava em Amizade, entre o Gonçalo e eu. Não eramos, claro, irmãos
gémeos, mas eramos almas fémeas (se é que as almas existem…, dúvida essa que
também com partilhamos, porra, que é demais!)
A
entrevista correu muitíssimo bem, antes dela eu estava um tanto abismado pois
normalmente quem as fazia era eu, e só por duas vezes sujeitos impolutos (uma dos
quais “sujeita”) tinham tido a
pachorra de me aturar durante umas horas para esmiuçar um episódio de um
passado mais ou menos intraduzível. No final, o rapaz não esteve com meias
medidas: prantou-a no seu livro intitulado O Inspector da PIDE que Morreu Duas Vezes.
De resto
o meu amigo Pereira Rosa já tinha publicado em 2015 Parem as Máquinas e em
2016 A
Gripe e o Naufrágio. Ora muito bem, chegou a altura de contar um tanto
resumidamente quem é este Senhor de seu nome Gonçalo Pereira da Rosa,
jornalista dos quatro costados, também escritor, pesquisador, professor
universitário, director da edição portuguesa da National Geographic e não sei
que mais… Daí a comparação espúria inicial com o bacalhau.
Começou
a ser jornalista em 1994 em jornais desportivos, revistas semanais e mensais e
como acima se menciona desde 2001 na National Geographic. Diz com um ar de chalaça
que comprovou aquilo que Raul Brandão disse em tempos: as Redacções atraem os
doidos como a luz atrai as falenas, irremediavelmente. Aliás cita o
Baptista-Bastos que escreveu em Os Deuses Absurdos que as redacções
são armazéns de loucos donos de um império consumido todos os dias,
cabouqueiros de um edifício que todos os dias colapsa.
O rapaz como também antes apontei é catedrático de Jornalismo
na Universidade Católica desde 2008 e diz ele “ensina os meninos e meninas a
respeitarem os jornalistas que os precederam. Gente como António Enes, Emídio
Navarro e Mariano de Carvalho no século XIX, um esgrimia com o floreste, o
outro com o varapau e o terceiro a soco ou a pontapé. Gente como Artur Portela,
Joaquim Manso, Norberto Lopes ou Norberto Araújo, que esgravataram ideias e
prosa apesar da Censura. Ou gente como eu (sem modéstia agradeço a referência),
o António Valdemar ou o Luís Alberto Ferreira que ousaram bater-se por
exclusivos quando as administrações só queriam saber de contas.
Abri
aqui um parênteses para mencionar outros excelentes jornalistas com os quais
tive o prazer e a honra de trabalhar desde o inigualável Mário Zambujal (que
criou um estilo muito próprio na literatura portuguesa actual a partir do
espantoso e delicioso Crónica dos Bons Malandros) até aos
Já falecidos Raul Rêgo e Cunha Rêgo, passando pelo também desaparecido Càceres
Monteiro, Ferreira Fernandes, Adelino Gomes Joaquim Furtado Manuel António Pina (Falecido) e tantos outros, entre os quais ainda acrescento as minhas queridas Alice Vieira e Maria Antónia Pala, o Carlos Pinto Coelho, o João Aguiar, ambos também também incluídos no número dos mortos e o Fernando Dacosta.
Gonçalo
define-se: é esquerdista incorrigível, sportinguista sem remissão (daí a a segunda
entrevista que acaba de me fazer sobre o grande presidente que foi João Rocha
cujo nome foi dado ao pavilhão velha aspiração de nós, os leões), ateu e
casado. E para finalizar a conversa que durou até quase ao jantar e durante a
qual cometi um gravíssimo pecado (não lhe ofereci algo para beber!), mea culpa, Gonçalo ainda somou que
segundo um teste de ADN do National Geographic, descobriu que tem 1,9% de
material genético comum com os Neandertais. E remata com uma bomba. A sua
mulher, quando sabe das figuras que ele faz no futebol diz que deve ser engano:
é capaz de ser mais!