2023-08-21

 

 


Engenheira de máquinas

*Entre a vocação e a negação da família

 

Antunes Ferreira

Foi uma bronca na família quando a Rosa Maria declarou aos pais, concluído o secundário, que ia ser engenheira de máquinas pesadas. Podia lá ser? O «velho machismo luso» salto para a superfície e o contraditório suou como sentença definitiva da boca do pai Vicente Carlos Costa Marques: «Isso é profissão para homens!» E a mãe, Maria Rosa Costa Esteves Marques, não se coibiu: «Seria ma vergonha; por certo estudarias entre alunos e não alunas!» Contudo, a Rosa Maria, de cujo cartão de cidadão constava o nome completo – Rosa Maria Esteves Marques olhou a direito os progenitores: «Queiram ou não, vou ser engenheira de máquinas pesadas. E mais não discuto!»

Dois dias depois, perante uma família pejada de desgosto, partiu para o Porto (eles moravam em Viana do Castelo) onde começou a fazer as démarches necessárias para frequentar a Faculdade de Engenharia que orgulhosamente exibe a frase padrão: «Da Academia Polytechnica de 1837 à Faculdade de Engenharia de Hoje – 176 anos de estudos superiores de engenharia no Porto». Escolheu a Licenciatura em Energia Mecânica, que, de acordo com a proposta da faculdade: «… há a oportunidade de aplicar as competências técnicas e os conhecimentos obtidos na resolução, de forma integrada, de um elevado número de problemas da humanidade, como a melhoria das condições de vida e a sustentabilidade do planeta. Como? Através de uma formação integrada, multidisciplinar, e que oferece cinco campos de especialização: Automação, Gestão da Produção; Energia Térmica; Projeto e Construção Mecânica; e Produção, Concepção e Fabrico.



Uma retroescavadora Caterpillar 

Mas também existe – o que lhe interessava – a construção de equipamentos mecânicos e térmicos (veículos automóveis e ferroviários, máquinas-ferramentas, estruturas metálicas, caldeiras, permutadores de calor…); Produção de energia (energia térmica, energia eólica, novas energias, climatização, qualidade do ar interior…); Planeamento e de gestão da produção (logística, transportes, manutenção industrial, gestão de recursos humanos, gestão da qualidade…); Automação industrial (automatização de linhas de produção, robótica, sistemas de controlo…); Desenvolvimento e aplicação de novos materiais (materiais cerâmicos, compósitos, poliméricos, biomateriais…) e Projeto e desenvolvimento de novos produtos (design integrado, ergonomia, sustentabilidade, …)



Rio de Onor - «Ponte comunitária»

Com ela tinha vindo de Viana, uma amiga desde a primária, Amélia Dias Pestana Vilarinho, que vinha estudar Letras, cuja Faculdade ficava no Pólo 3 (mais afastado) Amélia estava particularmente interessada em Mirandês, pois os seus avós tinham nascido e morrido na singular aldeia comunitária de Rio de Onor. Voltarei a esta curiosíssima estória quando/se se me deparar a oportunidade. Combinaram alugar um T1 para lá viverem, perto do Pólo 2 (Asprela). Esta tinha um namorado que frequentava o segundo ano da mesma Faculdade, mas do curso de comunicação/jornalismo. Chama-se ele Virgílio João Moutinho Carrazedo.

Começaram as aulas e, como os seus pais tinham previsto a turma da osa era constituída por 27 homens e uma mulher, ela, Rosa Maria, objecto de olhares muito curiosos e sorrisos sarcásticos. O professor (que for anunciado como Engenheiro a apresentar a tese do doutoramento, Mário Felisberto Borges dos Santos) apesar de um tanto carrancudo, mostrou-se simpático q.b. e realçou o facto de estar uma senhora a assistir à aula; Rosa não se conteve, levantou o braço direito dando a ideia de querer falar. Borges dos Santos afigurou-se admirado pois não era habitual tal procedimento, mas, alargando o sorriso, apenas disse: «Faça o favor, minha Senhora, a palavra é sua.»  

Ela levantou-se e, calmamente, esclareceu: «Senhor Professor, penas uma correpção; não é aula, são aulas, pois pretendo assistir a todas, salvo casos especiais; vim de Viana do Castelo, com o desgosto da família, para me licenciar, pelo menos, em Engenharia de Máquinas Pesadas. E fá-lo-ei contra quem mo quiser impedir.» e calou-se. A turma rompeu em palmas e Borges desceu do estrado, estendeu a mão direita à rapariga, num shake hands: «Isso é que é falar, minha Senhora! A propósito, como se chama?» «Professor se quiser fazer-me o favor, tire o “minha Senhora”. O meu nome é simples: Rosa Maria.»

Caso inaudito! O catedrático inclinou-se e pespegou dois beijos, um em cada face da aluna! O pessoal nem queria acreditar, mas voltou a soar uma prolongada salva de palmas. E a aula começou. O almoço foi no restaurante universitário com a Amélia e o Virgílio. Quando a Rosa contou a cena, foi um gargalhar de tal sonoridade que levou a que os outros comensais os olhassem entre o espantado e o divertido. Houve até um, espigadote e com borbulhas, que saiu da mesa onde almoçava, e veio ter com eles, para saber o que se passara. Esclarecido sumariamente, também entrou na risada.

A vida foi-se rotinando, ainda que a Amélia persistia na «conversa» que Rosa tinha de arranjar um namorado. «Primeiro o estudo; depois, logo se verá, há tempo par tudo» respondia ela, com um meio sorriso. Aliás na turma havia um colega, bastante jeitoso, que, subtilmente, a andava a galar… Porém, Rosa continuava a estudar – e a ter boas notas, de resto, as primeiras do trimestre deram como resultado que tinham sido as melhores. E os dois períodos que se seguiram só vieram confirmar: estava á cabeça, o que motivou, sem invejas, um jantar na churrasqueira do Campo Alegre, a que compareceram alguns Professores, entre os quais, se encontravam Borges dos Santos e a mulher dele.



«Gare» uma discoteca na moda da capital do Norte

Saíram, a Rosa, a Amélia, o Virgílio e mais dois colegas (entre os quais estava o «galador») decididas a ir tomar um copo ao «Gare» que o «jeitoso» alguns dias frequentava. Mas não esperavam uma cena terrível: um dos seguranças jazi no chão, anavalhado, escorrendo sangue enquanto um fabiano qualquer tentava reanimá-lo fazendo-lhe alternadamente pressões no peito. À volta juntar-se um monte de gente heteróclito e, entretanto, tinham acabado d chegar, em viatura com sirene, três guardas da PSP, que se limitaram a observar o corpo e declarar que «o gajo não está morto, está…falecidíssimo. Daqui em diante, mandar vir a Judiciária.»



Sérgio Conceição = 42 expulsões !!!!!

E ficaram comentando a vergonhaça do Sérgio Conceição e do Pepe, «embora eles sejam do FêCêPê não se pode admitir o desrespeito, a má educação dum gajo que é um óptimo treinador, mas é um bandido! 42 expulsões no currículo! Nem no Livro de Recordes Guiness deve haver caso igual! Ser empurrado para fora do banco, do qual não saía, depois de ter levado com o cartão vermelho é demais! Para não falar do Pepe, um carniceiro, era bom recordar que quando jogava no Real Madrid partiu uma perna a um desgraçado do Leganés!»



Cabeça de urso - desenho pequeno de Leonardo

D'Avinci (1480), vendido em leilão em Nova

Iorque por US$ 12 milhões

Judiciária, médico legista, dactiloscópicos para a recolha de impressões digitais, fotógrafo judiciário, etc. Das testemunhas, os Pêjotas pouco ou quase nada conseguiram. Porém outro dos seguranças, um negro hercúleo chamado Nicolau «o Pintas» que nessa noite estava de folga, interrogado na tónica do ram-ram, declarou, sem margem para dúvidas (e dívidas…) que o segurança assassinado, o Quim Ramalho, mais conhecido nos meios por «El Oso» (o Urso em castelhano) tinha tido uma briga fod…ups, lixada, com um tal Dom Pedro de Castro, um nobre (pelo menos este assim afirmava, convicto) porque este já há meses que não pagava a «El Oso» uns €€€€ que o segurança lhe emprestara.



Emblema da Policía Judicial de España

Foi um tremendo passo em frente, quase de corrida. O Castro andava por Espanha, ao que parece, alertado pelas investigações. E se fugira, qualquer coisa nada boa o levara a isso. Os tipos da «judite» contactaram a Interpol e esta, por seu turno ligou directamente para a Polícia Judiciária de Espanha (em castelhano Policía Judicial de España) que é um segmento que integra as estruturas das polícias espanholas, incumbido da repressão criminal através do exercício da investigação destinada a elucidar os delitos, apontando a autoria e determinando a materialidade. É enquadrada geralmente pela Ley de Enjuiciamento Criminal.

O «nobre» foi detido e remetido para Lisboa, onde confessaria a autoria do crime; motivo: €€€€! Não há nada de novo no orbe terráqueo!...

NB – A Rosa Maria anda a sair com o «Galador» que se chama Rodolfo Valente (não Valentino…) O caso parece dar pró sério. Tudo indica que não há nada a fazer.