2022-12-10



 


Constipação e goleada

 

*Abafa-te, avinha-te e acama-te

 

Antunes Ferreira

Espirrei. Tossi. Virei-me na cama e chamei a Raquel que me pôs a mão na testa. “Estás com febre.” Sentenciou e foi buscar o termómetro que me meteu n axila. “Não te mexas até eu voltar; vou fazer-te um chá com mel e volto já.” Ordens são ordens, especialmente vindas de quem manda em mim – não se discutem, ponto.

 

Claro que preferia na mistela um cheirinho de Black Buschmillls, mas podiam bulir com os milhares de drageias, comprimidos revestidos e outras poções que tomo por prescrição médica, sempre são 81 anos, embora haja quem m dê 97…  Sempre houve, há e haverá gente mal-intencionada, invejosa, deprimente ou apenas criminosa do mais alto coturno.

 


O veredicto
da minha cara-metade veio com o maldito chá. Consultou o instrumento medidor da temperatura“ Trinta e oito e quatro, nada de especial. Deve ser apenas uma constipação. Ontem estivemos a ver o Brasil – Coreia do Sul e não estiveste bem agasalhado. Vais ficar por agora na cama e depois logo se vê. Como foste inoculado juntamente com a vacina contra a Covid também o foste contra a gripe não deve haver coisa ”. Havia dobrada com feijão branco para o almoço e às sete horas o Portugal – Suíça – um plano incontornável. O aforismo “abafa-te, avinha-te e acama-te” era despiciendo.

 

Portanto levantei-me daí a pouco, tomei um duche bem quente, nem me escanhoei e acalmado parti para a dobrada que me soube como aperitivo para a jogatana a qual merecerá outras considerações noutro escrito. Para agora fica o que aconteceu, entretanto. Puro engano como à frente se verá. Voltara para o teclado quando o telefone fixo tocou, era o porteiro Miguel Matoso a comunicar-me que estava lá em baixo um casal que me queria falar.

 

Argumentava o cavalheiro que tinham sido meus alunos na Universidade Lusíada e que queriam trocar impressões comigo e colocar-me uma quantas questões sobre o tema Mundial 2022 sabendo que eu era um adepto do futebol. Como tinha tempo até à partida dos oitavos que envolvia a nossa selecção não vi inconveniente e mandei-os subir.

 

Reconheci-os mal abri a porta do apartamento que tenho alugado; o córtex continuava a funcionar a contento. Eram o Daniel Resendes e a Deolinda Furtado que entretanto haviam casado. Oportunidade para o uísque irlandês (para mim um dos melhores do Mundo…) e em tom simples de conversa contei-lhes como recebera uma dúzia de garrafas do precioso néctar.

 

O caso teve a sua piada e não resisto a registá-lo aqui. Num Ecofin (o Conselho para o Assuntos Económicos e Financeiros da UE) em que eu integrava a comitiva do ministro das Finanças Sousa Franco tive a oportunidade de falar com o seu colega irlandês Seán MacBride. Numa conversa informal disse-lhe que na armada do Vasco da Gama que descobrira o caminho marítimo para a Índia iam quatro marinheiros irlandeses.

 

Do facto havia documentos na Biblioteca Nacional em Lisboa. O governante ficou muito interessado e como havia um Conselho Europeu no mês seguinte em Dublim se eu pudesse arranjar fotocópias desses documentos e levar-lhas ficar-me-ia muito agradecido. E, graças a conhecimentos meus, assim aconteceu.

 

De tal forma MacBride ficou satisfeito que me levou ao que chamou o seu “gabinete pessoal” um pub situado quase em frente do seu Ministério onde me perguntou o que eu queria beber para comemorar o “feito”. Claro que lhe confessei a minha paixão pelo uísque irlandês e o ministro informou-me que tomava em boa conta essa “confissão” e daria conta dela â secretária, uma balzaquiana podre de boa chamada Fiona.

 


Estava ela ligada a uma estória que me deu a imagem quase perfeita da Irlanda dividida. Quando passávamos pelo palácio presidencial (era Presidente da República a primeira mulher, Mary Robson) havia três mastros de bandeiras. Explicou-me Fiona: um tinha a bandeira do país, o outro a da União Europeia e o terceiro estava vazio: era para nele ser colocado o estandarte da Irlanda Unida!

 

Para resumir. À partida para Lisboa o comandante do Falcon (eram os aviões a jacto da Força Aérea que transportavam as comitivas oficiais) onde eu ia chamou-me de parte na hora do embarque e disse-me que lhe fora entregue uma encomenda pesada da parte do ministro das Finanças irlandês destinada a mim. Por motivos de segurança abrira o que era uma caixa de cartão e lá dentro…

 


“Doutor, eu nem queria acreditar: uma dúzia de botelhas de Buschmills de várias qualidades desde o Black até ao Green, passando pelo Malt até um White Malt! E com um cartão apenas manuscrito em português Obrigado. Boa viagem. Assinado Seán. E colado no interior da tampa da caixa está um post it: LOVE Fiona Você tem o cuzinho virado prá Lua…”

 

A conversa e as perguntas incidiram sobre as atitudes do Cristiano Ronaldo. Eles alinhavam no grupo dos descontentes, achavam que a celebridade não o autorizava a fazer declarações no mínimo desbocadas dizia a Deolinda que embora confessasse ter uma paixãozita pelo madeirense não admitia que ele fosse como o cão que mordia a mão de quem lhe dava o comer.

 

Começara a transmissão do Lusal Stadium e na primeira parte Portugal já ganhava por dois a zero. Mas o melhor estava para vir; passado o intervalo e nos segundos 45 minutos + 4 a soma total foi 6 (por extenso seis) contra 1 (um, solitário e estranho) dos suíços. Que goleada! A selecção das quinas estava nos quartos da final. Como não quer a coisa fui até à arrecadação tipo bar anexa à sala de estar onde existia o televisor e emborquei mais um Buschmills à conta da malta de verde e rubro.

 

Foram-se embora satisfeitíssimos e a Lyuba que já armara a árvore artificial voltou-se para mim: “No fim de contas a constipação fez-lhe bem… E o jogo também…” Intrigado perguntei: “Como assim?” Ela com um sorriso maroto: “Uns uisquezinhos sem a dona Raquel dar conta…”

 


 

 UM PONTAPÉ MARROQUINO

“Buraco” (mais um?) do guarda-redes Diogo Costa ditou o que nós, os portugueses, não contávamos que pudesse acontecer: sair do estádio Al Thumama em Doha vergados ao peso duma cabeçada do marroquino Youssef En Nesyri no minuto 42 da primeira parte do Portugal-Marrocos dos quartos da final do Mundial 2022.




  

Esperanças lusas tinham-se avolumado depois dos históricos 6-1 alcançados sobre a Suíça e, principalmente, devido à excelente exibição dos dirigidos (?) por Fernando Santos. Antevia-se uma aurora rosada perante uns magrebinos perigosos que sabiam estender-se harmoniosamente no relvado e entender-se entre si  maravilhosamente. E, além disso tinham (e têm) um guardião cinco estelas, Yassine Bounou.

 

As imagens televisivas que o capitão da equipa nacional, Cristiano Ronaldo (que só entrou a jogo na segunda parte) saiu a chorar do campo no final da partida: um final duro e doloroso para um verdadeiro embaixador de Portugal ao longo de mais de uma década, considerado um dos melhores – senão mesmo o melhor – futebolista do Mundo.

 

Não vale a a pena chorar sobre o leite derramado, mas pode tirar-se daqui uma lição: não se deve contar com o ovo no cu da galinha…

Uma última linha para me despedir destes escritos sobre o Mundial 2022. Comentámos enquanto a "equipa de todos nós" lá esteve; agora, abafa-te, avinha-te e acama-te. Já tá, AF

 

Messi na final do Mundial

 

Antunes Ferreira

Tinha pensado – e até prometido a mim mesmo – que, depois do desastre da selecção portuguesa no Mundial de Futebol 2022 a decorrer no Qatar não voltaria neste blogue ao tema, já bastara o que acontecera. Mas se a intenção era legitima e boa, não se pode esquecer que de boas intenções está o Inferno cheio. E, para mais, saiu à ribalta o Evagate que tudo o indica estará relacionado com o emirado sede da competição.

 

Enquanto a equipa das quinas por lá andou a tentar dar um ar da sua graça, trocámos opiniões a minha Amiga portuguesa “germanizada” Teresa Palmira Hoffbauer, que reside na Alemanha, e eu próprio, ambos amantes do chamado “desporto-rei”. E ontem, terça-feira ela escreveu sobre o Argentina-Croácia que tinha visto e sobre o qual deu a sua opinião. Ora eu não podia ficar calado, Por uma simples razão. Por isso escrevi no seu blogue “Ematejoca Azul” o testic…ups, textículo que se segue:

 


 «Eu também vi o Messi, perdão, vi o jogo e tenho de reconhecer que – embora não goste dele – o homem é um GÉNIO! O trabalho que fez para proporcionar ao Julián Alvarez o terceiro golo (minuto 69) é um portento, uma maravilha pois só ele conseguiria desembrulhar o espaço no meio de uma defesa croata perfeitamente enfeitiçada e por fim pasmada.

 

A partida foi interessante com a Croácia a experimentar um inicio encorajador e a Argentina (cada vez gosto menos dela, embora reconheça que é uma grande equipa, o seu a seu dono) a apalpar o terreno e a preparar o veneno de que é dona e especialista.

 

Após esses momentos de estudo recíprocos” começou a vir ao de cimo a estaleca do time do país das pampas. E se, como é sabido, para se dançar o tango são precisos dois, no Lusail Stadium só um parceiro acertou no compasso: o alvi-azul. Porque o outro aos quadrados azuis e negros (desta feita não pôde envergar as tradicionais camisolas quadriculadas a vermelho e branco por mor do regulamento da prova) fartou-se de trocar os pés, ainda que, como é hábito, quem deu mais porrada foram os homens do chá mate.

 

Temos, portanto, a primeira finalista; amanhã, quarta-feira, (hoje) surgirá a segunda, resultante do jogo França-Marrocos. Vou torcer pelos norte-africanos. Chauvinismo à la portuguaise? Vingança desnaturada? Não. Não quero ver a tricolor içada na Tour Eiffel!»