Constipação e goleada
*Abafa-te, avinha-te e acama-te
Antunes Ferreira
Espirrei. Tossi. Virei-me na cama e chamei a Raquel que me
pôs a mão na testa. “Estás com febre.” Sentenciou e foi buscar o
termómetro que me meteu n axila. “Não te mexas até eu voltar; vou fazer-te
um chá com mel e volto já.” Ordens são ordens, especialmente vindas de quem
manda em mim – não se discutem, ponto.
Claro que preferia na mistela um cheirinho de Black Buschmillls,
mas podiam bulir com os milhares de drageias, comprimidos revestidos e outras
poções que tomo por prescrição médica, sempre são 81 anos, embora haja quem m
dê 97… Sempre houve, há e haverá gente mal-intencionada,
invejosa, deprimente ou apenas criminosa do mais alto coturno.
O veredicto da minha cara-metade veio com o maldito chá. Consultou o instrumento medidor da temperatura“ Trinta e oito e quatro, nada de especial. Deve ser apenas uma constipação. Ontem estivemos a ver o Brasil – Coreia do Sul e não estiveste bem agasalhado. Vais ficar por agora na cama e depois logo se vê. Como foste inoculado juntamente com a vacina contra a Covid também o foste contra a gripe não deve haver coisa ”. Havia dobrada com feijão branco para o almoço e às sete horas o Portugal – Suíça – um plano incontornável. O aforismo “abafa-te, avinha-te e acama-te” era despiciendo.
Portanto
levantei-me daí a pouco, tomei um duche bem quente, nem me escanhoei e acalmado
parti para a dobrada que me soube como aperitivo para a jogatana a qual
merecerá outras considerações noutro escrito. Para agora fica o que aconteceu,
entretanto. Puro engano como à frente se verá. Voltara para o teclado quando o
telefone fixo tocou, era o porteiro Miguel Matoso a comunicar-me que estava lá
em baixo um casal que me queria falar.
Argumentava
o cavalheiro que tinham sido meus alunos na Universidade Lusíada e que queriam
trocar impressões comigo e colocar-me uma quantas questões sobre o tema Mundial
2022 sabendo que eu era um adepto do futebol. Como tinha tempo até à partida
dos oitavos que envolvia a nossa selecção não vi inconveniente e mandei-os
subir.
Reconheci-os mal abri a porta do apartamento que tenho
alugado; o córtex continuava a funcionar a contento. Eram o Daniel Resendes e a
Deolinda Furtado que entretanto haviam casado. Oportunidade para o uísque
irlandês (para mim um dos melhores do Mundo…) e em tom simples de conversa
contei-lhes como recebera uma dúzia de garrafas do precioso néctar.
O caso teve
a sua piada e não resisto a registá-lo aqui. Num Ecofin (o Conselho para o
Assuntos Económicos e Financeiros da UE) em que eu integrava a comitiva do
ministro das Finanças Sousa Franco tive a oportunidade de falar com o seu
colega irlandês Seán MacBride. Numa conversa informal disse-lhe que na
armada do Vasco da Gama que descobrira o caminho marítimo para a Índia iam
quatro marinheiros irlandeses.
Do facto havia documentos na
Biblioteca Nacional em Lisboa. O governante ficou muito interessado e como
havia um Conselho Europeu no mês seguinte em Dublim se eu pudesse arranjar
fotocópias desses documentos e levar-lhas ficar-me-ia muito agradecido. E,
graças a conhecimentos meus, assim aconteceu.
De tal forma MacBride
ficou satisfeito que me levou ao que chamou o seu “gabinete pessoal” um pub
situado quase em frente do seu Ministério onde me perguntou o que eu queria
beber para comemorar o “feito”. Claro que lhe confessei a minha paixão pelo
uísque irlandês e o ministro informou-me que tomava em boa conta essa
“confissão” e daria conta dela â secretária, uma balzaquiana podre de boa
chamada Fiona.
Estava ela ligada a
uma estória que me deu a imagem quase perfeita da Irlanda dividida. Quando
passávamos pelo palácio presidencial (era Presidente da República a primeira
mulher, Mary Robson) havia três mastros de bandeiras. Explicou-me Fiona: um
tinha a bandeira do país, o outro a da União Europeia e o terceiro estava vazio:
era para nele ser colocado o estandarte da Irlanda Unida!
Para resumir. À
partida para Lisboa o comandante do Falcon (eram os aviões a jacto da Força
Aérea que transportavam as comitivas oficiais) onde eu ia chamou-me de parte na
hora do embarque e disse-me que lhe fora entregue uma encomenda pesada da parte
do ministro das Finanças irlandês destinada a mim. Por motivos de segurança
abrira o que era uma caixa de cartão e lá dentro…
“Doutor, eu
nem queria acreditar: uma dúzia de botelhas de Buschmills de várias qualidades desde o Black até ao Green, passando pelo
Malt até um White Malt! E com um cartão apenas manuscrito em português Obrigado.
Boa viagem. Assinado Seán. E colado no interior da tampa
da caixa está um post it: LOVE Fiona Você tem o cuzinho
virado prá Lua…”
A conversa e as
perguntas incidiram sobre as atitudes do Cristiano Ronaldo. Eles alinhavam no
grupo dos descontentes, achavam que a celebridade não o autorizava a fazer
declarações no mínimo desbocadas dizia a Deolinda que embora confessasse ter
uma paixãozita pelo madeirense não admitia que ele fosse como o cão que mordia
a mão de quem lhe dava o comer.
Começara
a transmissão do Lusal Stadium e na primeira parte Portugal já ganhava por dois
a zero. Mas o melhor estava para vir; passado o intervalo e nos segundos 45
minutos + 4 a soma total foi 6 (por extenso seis) contra 1 (um,
solitário e estranho) dos suíços. Que goleada! A selecção das quinas estava nos
quartos da final. Como não quer a coisa fui até à arrecadação tipo bar anexa à
sala de estar onde existia o televisor e emborquei mais um Buschmills à conta
da malta de verde e rubro.
Foram-se embora satisfeitíssimos e a Lyuba que já
armara a árvore artificial voltou-se para mim: “No fim de contas a
constipação fez-lhe bem… E o jogo também…” Intrigado perguntei: “Como
assim?” Ela com um sorriso maroto: “Uns uisquezinhos sem a dona Raquel
dar conta…”
UM PONTAPÉ MARROQUINO
“Buraco” (mais um?) do guarda-redes
Diogo Costa ditou o que nós, os portugueses, não contávamos que pudesse
acontecer: sair do estádio Al Thumama em Doha vergados ao peso duma cabeçada do
marroquino Youssef En Nesyri no minuto 42 da primeira parte do
Portugal-Marrocos dos quartos da final do Mundial 2022.
Esperanças lusas tinham-se avolumado depois dos históricos 6-1 alcançados sobre a Suíça e, principalmente, devido à excelente exibição dos dirigidos (?) por Fernando Santos. Antevia-se uma aurora rosada perante uns magrebinos perigosos que sabiam estender-se harmoniosamente no relvado e entender-se entre si maravilhosamente. E, além disso tinham (e têm) um guardião cinco estelas, Yassine Bounou.
As imagens
televisivas que o capitão da equipa nacional, Cristiano Ronaldo (que só entrou a
jogo na segunda parte) saiu a chorar do campo no final da partida: um final
duro e doloroso para um verdadeiro embaixador de Portugal ao longo de mais de
uma década, considerado um dos melhores – senão mesmo o melhor – futebolista do
Mundo.
Não vale a a pena chorar sobre o leite derramado, mas pode tirar-se daqui uma lição: não se deve contar com o ovo no cu da galinha…
Uma última linha para me despedir destes escritos sobre o Mundial 2022. Comentámos enquanto a "equipa de todos nós" lá esteve; agora, abafa-te, avinha-te e acama-te. Já tá, AF
Messi na final do Mundial
Antunes Ferreira
Tinha pensado – e até
prometido a mim mesmo – que, depois do desastre da selecção portuguesa no
Mundial de Futebol 2022 a decorrer no Qatar não voltaria neste blogue ao tema,
já bastara o que acontecera. Mas se a intenção era legitima e boa, não se pode
esquecer que de boas intenções está o Inferno cheio. E, para mais, saiu à
ribalta o Evagate que tudo o indica estará relacionado com o emirado sede da
competição.
Enquanto a equipa das quinas
por lá andou a tentar dar um ar da sua graça, trocámos opiniões a minha Amiga portuguesa
“germanizada” Teresa Palmira Hoffbauer, que reside na Alemanha, e eu próprio,
ambos amantes do chamado “desporto-rei”. E ontem, terça-feira ela escreveu
sobre o Argentina-Croácia que tinha visto e sobre o qual deu a sua opinião. Ora
eu não podia ficar calado, Por uma simples razão. Por isso escrevi no seu
blogue “Ematejoca Azul” o testic…ups, textículo que se segue:
«Eu
também vi o Messi, perdão, vi o jogo
e tenho de reconhecer que – embora não goste dele – o homem é um GÉNIO! O
trabalho que fez para proporcionar ao Julián Alvarez o terceiro golo (minuto
69) é um portento, uma maravilha pois só ele conseguiria desembrulhar o espaço no
meio de uma defesa croata perfeitamente enfeitiçada e por fim pasmada.
A partida foi interessante com a Croácia a experimentar um
inicio encorajador e a Argentina (cada vez gosto menos dela, embora reconheça
que é uma grande equipa, o seu a seu dono) a apalpar o terreno e a preparar o
veneno de que é dona e especialista.
Após esses “momentos de estudo recíprocos” começou a vir ao
de cimo a estaleca do time do país das pampas. E se, como é sabido, para se
dançar o tango são precisos dois, no Lusail Stadium só um parceiro acertou no
compasso: o alvi-azul. Porque o outro aos quadrados azuis e negros (desta feita
não pôde envergar as tradicionais camisolas quadriculadas a vermelho e branco
por mor do regulamento da prova) fartou-se de trocar os pés, ainda que, como é
hábito, quem deu mais porrada foram os homens do chá mate.
Temos, portanto, a primeira finalista; amanhã, quarta-feira,
(hoje) surgirá a segunda, resultante do jogo França-Marrocos. Vou torcer pelos
norte-africanos. Chauvinismo à la portuguaise? Vingança desnaturada? Não. Não
quero ver a tricolor içada na Tour Eiffel!»