Sabes o que é
um cromeleque?
Antunes Ferreira
(Uma advertência prévia nunca fez mal a
ninguém
antes pelo contrário e por isso ela aqui fica.
Quando comecei a dar os primeiros
passos no jornalismo mais precisamente
no “falecido” Diário Ilustrado, o Victor da Cunha Rêgo
, um dos maiores Jornalistas que conheci,
que muito me ensinou e com quem tive
o
prazer, o privilégio e a honra de trabalhar
deu-me uma das principais regras da redacção
de uma notícia, de um artigo,
de um comentário, enfim de um
texto – nunca se faz um título interrogativo.
Caramba, mas este acabei de o fazer!
Privilégios da velhice? Que desculpa
mais esfarrapada…)
Desde miúdo que
gosto de histórias aos quadradinhos como então se dizia e continuo a dizer; aos
cinco anos já sabia ler, tinha aprendido pela Cartilha Maternal o João de Deus
com a minha prima Queta que tinha doze anos e era esperta como um figo (nunca
percebi o porquê de um fruto da figueira ser esperto…) e por isso o meu Pai,
além de comprar o Diário de Notícias e o República também adquiria o Mosquito
para mim. E A Bola que era semanária.
Foi “vicio” que
me ficou até hoje e que confesso com muito prazer. Quando atingi a maioridade a
20 de Setembro de 1958, por emancipação, iria no ano seguinte falecer o meu
Pai, um Homem de Bem, honesto, simples, tímido, profissionalmente um gigante
que ainda hoje guardo com respeito saudade e admiração. E entretanto, porque
eramos uma família da média burguesia a pouca massa de que dispúnhamos foi-se
acabando e eu, o filho mais velho dos sete irmãos que eramos comecei a
trabalhar e estudar na faculdade de Direito de Lisboa.
E dos
poucos tostões com que tinha de me desenrascar uns quantos eram para comprar a
revista francesa Pilote de histórias aos quadradinhos. Nela apareceram já em
1959 dois heróis que me acompanham até hoje, pois tenho a colecção completa
deles – Astérix e Obelix. Este último um produtor, transportador e
distribuidor de menires, gozando da super-força devida à poção mágica criada
pelo druida Panoramix, pois quando puto caíra no caldeirão onde este preparava
a mistela.
Aqui chegado
tenho de explicar o porquê desta introdução ”quadriculada”. Pouca gente sabe, mas Portugal tem monumentos
pré-históricos em pedra muito mais antigos do que o Stonehenge, na Inglaterra. Na
verdade, são alguns dos monumentos megalíticos mais antigos da Europa. O
megalitismo trata dos monumentos megalíticos, construções monumentais
milenares, com base em grandes blocos de pedras, que pesavam toneladas.
Alguns dos exemplos mais antigos de monumentos megalíticos surgiram na costa
do Oceano Atlântico, na Europa, entre a Escandinávia e a Península Ibérica.
Particularmente, no Algarve e Alentejo, em Portugal. A conversa que mantive com
o Gonçalo Pereira Rosa – e que levou ao último artigo deste blogue – levou-me à
leitura do National Geographic de
Março, onde ele publicou o artigo/editorial intitulado Reviver o passado no Cromeleque dos Almendres.
Recomendar a leitura dele seria despiciendo pois j
á disse no
texto atrás referido quem é o Gonçalo. Mas sugerir uma visita ao monumento
megalítico isso sim; fazê-lo é realmente reviver o passado mas um passado com
toneladas de peso – porque as pedras que constituem o cromeleque são mesmo
grandes. A história da sua descoberta tem muitas estórias e azares pelo meio.
Foi em 1964 que o pastor António Gardunhas encontrou uma grandes pedras no
sítio das Pedras Talhas (o nome vernáculo do local situado na antiga freguesia
de Guadalupe ente Évora e Montemor-o-Novo).
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National Geographic edição portuguesa |
Socorrendo-me dos documentos existentes, nomeadamente dólmenes ou antas,
mamoas, cromeleques, grutas artificiais, menires e tolos inseridos no contexto
da arte megalítica no nosso país foi-me possível chegar a uma totalidade de
cerca de trezentos. É obra. E nada nos diz que não haja mais por descobrir. Mas
se se voltar à totalidade constatar-se-á que só no distrito de Évora existem
(até à data) 55 obras de arte megalíticas.
Para concluir este trabalho sem quais quer pretensões académicas, apenas
informativas e muito resumidas aqui ficam algumas características dos
principais monumentos megalíticos, a saber.
Menir, também denominado perafita, é um monumento pré-histórico de pedra, cravado verticalmente no solo às vezes de tamanho bem elevado.
Cromeleque, é o conjunto de diversos menires dispostos
em um ou vários círculos em elipses, em rectângulos,
em semicículo ou ainda estruturas mais complexas.
O termo está praticamente
obsoleto em arqueologia, mas permanece em uso como uma expressão
coloquial. Trata-se de monumentos da pré-história,
estando associados ao culto dos astros e da natureza,
sendo considerados um local de rituais religiosos e de encontro tribal. A
grande maioria dos cromeleques existentes em Portugal encontra-se
em encostas expostas a nascente-sul.
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Dólmen da Orca |
O dólmen caracteriza-se por ter uma câmara de
forma poligonal ou circular utilizada como espaço sepulcral. A câmara dolménica
era construída com grandes pedras verticais que sustentam uma grande laje horizontal
de cobertura. As grandes pedras em posição vertical, denominadas esteios
ou ortósmos,
são em número variável entre seis e nove. A laje horizontal é
designada chapéu, mesa ou tampa. Existem câmaras dolménicas que chegam a ter a
altura de seis metros. Quando a superfície da câmara dolménica não supera o
metro quadrado, considera-se que é um monumento megalítico denominado cista.
Ao que tudo indica, os
dólmenes apresentavam-se outrora sempre encobertos por um montículo artificial
de terra, geralmente revestidos por uma couraça de pequenas pedras imbricadas,
formando aquilo que se designa por mamoa
Tolo, designa um edifício circular, seja um monumento religioso, templo ou sepultura. Na pré-história os tolos eram constituídos por uma câmara circular, com uma abertura para um corredor, e uma cúpula. A cúpula era formada por lajes de xisto sobrepostas, eventualmente com uma coluna ao centro para a sustentar.
Fica aqui concluído este
modesto contributo para o esclarecimento dos que acompanham o nosso blogue que
continua a tentar ser de todos para todos.