2017-11-17





Uma loira
e duas morenas
no deserto

As loiras sempre foram motivo para anedotas; mas elas tal como os alentejanos são sempre citados pela burrice ou por ridículas situações que protagonizam mas sem culpa nenhuma. Os gentios é que os usam (os alentejanos e as loiras) para os outros fazerem chicana. Há estórias de loiras por tudo o que sítio. Sendo que não sou adepto de tais anedotas, vou contar um episódio brincalhão sem querer ofendê-las; longe de mim essa intenção.

As loiras ficaram para a História. Muitos os autores que as referiram cantaram-nas de todas as formas. Com trabalho árduo foram limpando maledicência que muitos haviam dito delas e lagartos quanto à alegada burrice e situações ridículas, como atrás o autor escreveu; mas, pelos vistos, a ironia prevaleceu. Continuaram a viver a sua via dolorosa tal como Cristo percorreu até chegar ao Gólgota. Pobres loiras!
Camões escreveu nos Lusíadas, mais precisamente no canto IX, a fábula da Ilha dos Amores, onde os navegautas encontraram as ninfas e começaram a jogar o jogo dos amores com elas; o Poeta fez o verso que se segue, naturalmente apenas um traço para não chatear as nossas leitoras e os nossos leitores. Diz Luís Vaz de Camões

Duma [das ninfas] os cabelos de ouro o vento leva
Correndo, e de outras as fraldas delicadas.
Acende-se o desejo, que se cava
Nas alvas carnes, súbito mostradas

Camões também conta no seu poema épico uma das mais belas estórias de amor, drama e desgraça, ou seja a de Dom Pedro e Dona Inês de Castro. Apesar de ter casado com Dona Constança Manuel, Pedro, encontrando a loira Inês de Castro, uma das aias da princesa casadoira, apaixonou-se loucamente por ela. Mas a estória teve um final funesto. Irritado com o procedimento do Infante o seu pai, D. Afonso IV resolveu dar cabo de Inês, e os nobres Pêro Coelho, Álvaro Gonçalves e Diogo Lopes Pacheco foram à Quinta das Lágrimas em Coimbra e apunhalaram Inês sem dó nem piedade e até na presença dos filhos que tivera de Pedro. O final é ainda pior se é possível.

Pedro tomado dum furor louco mandou executar os fidalgos assassinos arrancando-lhes os corações, os pulmões e os fígados pelo arcaboiço. Pedro que casara secretamente com Inês iria coroá-lo depois de morta, e estando ela já amortalhada obrigara os cortesãos a beijar-lhe o anel de Rainha e declarou o casamento oficial. Luís Vaz de Camões também cantou nos seus Lusíadas o drama horrível:

Inês e Dom Pedro


Estavas, linda Inês, posta em sossego,
De teus anos colhendo doce fruito,
Naquele engano de alma, ledo e cego,
Que fortuna não deixa durar muito.
Nos saudosos campos do Mondego,
De teus fermosos olhos nunca enxuito,
Aos montes ensinando e às ervinhas
O nome que no peito escrito tinhas

Do teu príncipe ali te respondiam
As lembranças que na alma lhe moravam,
Que sempre ante seus olhos te traziam,
Quando dos teus fermosos se apartavam;
De noite, em doces sonhos que menriam,
De dia, enfim, cuidava e quanto via
Eram tudo memórias de alegria

Assi como a bonina, que cortada
Antes do tempo foi, cândida e bela,
Sendo das mãos lactivas maltratada
Da menina que a trouxe na capela
O cheiro traz perdido e a cor murchada;
Tal está, morta, a pálida donzela,
Secas do rosto as rosas e perdida
A branca e viva cor, co a doce vida

Lady Godiva

 Diz a lenda
que a bela e loira Lady Godiva ficou sensibilizada com a situação do povo de Coventry, que sofria com os altos impostos estabelecidos por seu marido. Lady Godiva ter-lhe-á apelado tanto que ele acordou conceder com uma condição: que ela cavalgasse nua pelas ruas de Coventry. Ela aceitou a proposta e Leofrico mandou que todos os moradores da cidade se fechassem em suas casas até que ela passasse. Diz a lenda que somente uma pessoa (Peeping Tom) que por uma frincha da sua janela ousou olhá-la, e ficou cego por consequência. No final da história, Leofrico retira os impostos mais altos assim mantendo sua palavra.


1.           
Agora vá-se à anedota com
Vá-se ao deserto
piada, ainda que ironiza as loiras. Duas morenas e uma loira tinham ido ao deserto, num carro de tração às quatro rodas, para admirar as dunas e os seus movimentos ondeando como se fora num oceano. Mas nem sabiam o que Sol e o calor lhes destinavam, porque o carro pifara, causando-lhes sentimentos desesperados. Sabiam que nas areias do deserto a possível salvação obteriam.

E por desfortuna delas nem um pequeno
Nem um oásis
oásis não viam e miragens nem vê-las! Por mais pequeno que fosse, pelo mesmo caminho iam andando trôpegas, aos tombos e trambolhões que o filho da puta do calor caindo pesado e sufocante abafavam . E de repente uma das morenas parou e atirou-lhes uma sugestão: elas tirassem uma parte do carro Para quê? Respondeu a outra morena já pejada de suor. Foda-se!  Precisas que te explique ou queres que faça um boneco?
 
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As coisas estavam a dar para o torto e para evitar uns sopapos decidiram levar uma parte do carro; a primeira morena adiantou: eu levo o radiador, pelo menos bebemos água. E a segunda morena: boa! Eu cá levo o tejadilho sempre nos cobre do Sol. E virando-se para a loira: que levas? E a loira respondeu: prefiro levar uma porta… Caramba! Uma porta!
As morenas entre-olharam-se e repetiram: Uma porta????

A loira já exaltada encheu-se de brios: vocês ainda se vão chorar por mim, faço-vos uma falta; Depois vão chorar na cama. As mornas já irritadas: porra! Não nos fod… digo, trames. Por que raios vais levar uma porta: E a loira: se houver muito calor baixo o vidro da para gozar uma brisa…