2017-11-06





Antunes Ferreira
Ladislau saiu da oficina com um carrinho de mão coberto com um pano cinzento. Há pouco o Movimento dos Capitães tinha cantado vitória; pela cidade o povo saía à rua batia palmas, enchia as ruas de Lisboa, nas mãos cravos vermelhos 
e nos canos das espingardasgritava Liberdade! No Largo do Carmo apinhado de gente, Sousa Tavares, o Tareco, com um megafone na mão como se fora o comandante civil da multidão eufórica, protagonizava o entusiasmo louco dos Portugueses, no alto do coreto que ali havia (e ainda há).

O herói Salgueiro Maia


Salgueiro Maia, vindo do Terreiro o Paço, posicionara-se diante do quartel da Guarda Republicana e das ruínas do convento do Carmo, tentara aceitar a rendição de Marcelo Caetano e de outros ministros da ditadura imposta pelo Salazar que se tinham refugiado no quartel. Mas o pulha do Marcelo dissera-lhe que queria um gajo de categoria, porque não se renderia a um apenas capitão. Salgueiro ainda pensou em ir-lhe às trombas, mas pensando melhor mandou buscar o Spínola pois o monóculo dava-lhe um ar de diplomata ou de nobre.

Maia resignou-se. Finalmente o Marcelo e parte da sua quadrilha saíram numa chaimite muito encolhidinhos, mais parecendo sardinhas em lata mas em tomate. Diz-se que foi aí que apareceu a expressão com tomates ou sem tomates aplicada aos homens; disse-se depois que o mais acagaçado era o Silva Cunha, mais tarde recuperado pela jovem democracia que ainda usava fraldas descartáveis.

Sem legenda


Nessa altura abundavam os vira-casacas, mas usando apenas uns miseráveis casacos, alguns dos quais em segunda mão e aí começou a falência do Anahory. Advertência: isto é uma interpretação pessoal e abusiva pois que uma data tão importante que até deu feriado como o Dia da Liberdade que o Passos Coelho e sobretudo o Portas por falta de tomates em especial o segundo, não conseguiram abolir. A troica ficou muito fod, … oops, chateada pela desobediência (que nunca mais se verificou) à Autoridade, digo Austeridade, 
Autoridade, oops, austeridade
ameaçando que se ela não fosse cumprida não viriam mais os carcanhóis emprestados com juros muito grandes, pelo FMI e pelo BCE (alguém tinha de lucrar…com a negociata, aliás muito “bondosa” e “amistosa”) 

Ai aguentam, aguentam


Foi o tempo do PREC. A História tem que lhe diga e embora eufótica deu muitas dores de cotov…, perdão, deu muitas dificuldades aos portugas (é bem certo o rifão quando o mar na rocha quem se lixa é o mexilhão) que foram apertando o cinto embora o (fdp, por extenso filho da puta) do Ulrich tenha ladrado “ai aguentam, aguentam) com o miserável propósito de achincalhar os cidadãos vítimas da austeridade. Aí, sim, umas galhetas bem dadas, só se perdendo desgraçadamente as que caim no chão.

As estórias da História são muitas, umas boas, outras dramáticas, ainda outras medíocres, que se podem enumerar, delas fazer percentagens, retirar lições e ilações que por vezes são até mesmo mentiras e fantasias que mais tarde serão descobertas e por isso terem finais desagradáveis. Porém as estórias podem ser contadas com e por seu turno há que ter em conta com rigor que História merece e exige; estórias há muitas – a História é única em cada país.

Já basta de considerandos e adversativas; voltemos então ao nosso Ladislau com o seu carrinho de mão coberto por um pano cinzento. Para não se ver o que levava? Gato escondido com o rabo de fora… O tipo lá ia andando com o apetrecho carrinhal. Só parou numa tasca para comer uns caracóis e dois copos de três; não tinha tomado o pequeno-almoço e começavam os intestinos a dar horas: Poças, um homem não é feito de pau aliás é muito diferente de um homem com o pau-feito…
Bate-sola



Depois de confortado, Ladislau retomou o andar com o carrinho, etc. Mas lembrou-se que tinha de ir ao sapateiro pois deixara uns sapatos para substituir as solas porque estas já estavam muito gastas e já até um dos pares tinha um buraco. Tinha dois pares de chancas e um estava a usa-los e outro… no bate-sola. Pedira ao artífice que pusesse meias-solas.  Por isso desviou o caminho par ir busca-los e se calhar deixava os que usava e calçava os outros. Com a austeridade, um gajo tinha de se desenrascar.

O sapateiro nem lhe levou muita guita, fez-lhe um bom preço que aliás o Ladislau contara por alto e saíra-lhe uma pechincha. E já que estava no sapateiro decidiu passar pela casa duma prima que vivia precisamente no primeiro andar por cima da loja. Tinha todo o tempo do Mundo e o destinatário do que levava no carrinho de mão, etc. trabalhava à noite pois era padeiro e objecto que ele usava só o usava nos-de-semana na casa do campo. Mordomias de padeiro… e sempre lhe ia dar umas carcaças pois era um gajo fixe.

Simone assumia as suas rugas


Assim fez. Já com os pães bem cozidos e depois de dar à língua com o panificador voltou a caminhar. Ia assobiando o “Sol de Inverno” que a Simone cheia de rugas continuava a cantar. Gostava dela porque assumia as suas rugas, não as disfarçava com maquilhagem, muito menos com o “maravilhoso ácido glicólico” muito publicitado em todos os médios desde os jornais e revistas, nos rádios e nas televisões e agora na Internet e nas redes sociais.

Sentinela bem acordado...


Para chegar ao destino do cavalheiro que tinha encomendado o objecto que ia tapado com o pano cinzento, tinha de passar por diante do Quartel Geral da cidade. E aí se deu o drama. Drama? Sim senhor. A sentinela (bem acordada) ao portão de armas chamou-o. Relembro que se estava no PREC e as suspeitas eram mais do que as quotidianas. Ó camarada o que é que leva nesse carrinho. “Adivinho” que são armas para os reaccionários. Ora diga lá meu menino se são ou não são.

É áá…gu…gu…a…a. Com quem então é agua … Ó chico esperto!. Julgas que eu sou um anjinho, sem asas…Eu não enfio barretes!... Vem ali para dentro do quartel e vais ver com quem te meteste!!! E assim aconteceu, veio o oficial de dia, o sargento de guarda e vários magalas e deram-lhe um enxurro de porrada de ficar um chapéu dum pobre. Depois com o Ladislau cheio de hematomas e uma perna ao peito; em fim destaparam o que ia no carrinho de mão. Era uma bomba de tirar água! I Ladislau estava mudo e quedolambendo as feridas como se fora um cão

bomba de água
Ó meu camelo desculpa lá; podias dizer logo de entrada que era uma bomba de tirar água e safavas-te deste arraial de cacetada… E oficial de dia continou a falar com o gajo que levava uma coisa que, afinal, era uma mera bomba de água, muito vulgar há uns tempos atrás, normalmente são eléctricas. E o oficial continuava: Reacionário? Mas és um pobre diabo amarrotado. E o Ladislau que era gago. Sse eu..eu..diss…esse…se qu..ee ee.raa uma..a bom..bomba já nem d..dizzi-ia áa..gua…aa.
  
 






     

2017-11-01

A mana (????)

do padre

 Francisco

Antunes Ferreira
Vitorino Ximenes dos Santos montou-se na bicicleta com que ia e vinha de casa para Gaia, onde se encontrava a primeira fábrica de cortiça do Senhor Amorim na qual era operário, meteu os pés nos pedais ajeitou o traseiro no selim e seguiu para Arcozelo onde vivia com os pais e duas irmãs mais velhas do que ele, pois era o último da família, a que os brasileiros chamavam caçula. Mas por que bulas diziam os brasucas caçula? Metera aquela interrogação, na cachola e decidira fazer a pergunta ao ti António que era um sabichão e vivia na praia da Aguda Tinha a certeza que o “Mocho” – assim chamavam ao gajo porque dormia de dia e saía à noite para fazer a ronda das tabernas e comer umas gajas fixes, muitas delas casadas, mas naturalmente sem os respectivos …saberem, o corno é na verdade o último a saber – o esclareceria.

Os pais Santos tinham cinco filhos e nove filhas. (No futuro lá longe haveria uns sacanas que diziam que eles não tinham televisão – daí a prole pois à noite o casal entretinha-se na cama… Eram, portanto, especialistas em brincadeiras entre lençóis, como manda a decência e a Santa Madre Igreja; e a mãe tinha uma devoção à Nossa Senhora da Conceição. Mas conceições havia muitas e padre Francisco que vivia com a irmã, justamente Maria da Conceição, até se chateava e muito, quando ironicamente diziam: irmã(?????)   

II Guerra Mundial

Corria o ano de 1939 - nascera em 18 de Fevereiro de 1923 - e tinha começado um arraial de porrada entre os aliados e o eixo, assim a modos dum Portugal-Espanha com muitíssimas mais galhetas. Era a Segunda Guerra Mundial. Em Arcozelo não ligavam peva à cacetada. Por virtude da Nossa Senhora de Fátima e também do Senhor Presidente do Concelho de Ministros, doutor António de Oliveira Salazar, a guerra não chegava a Portugal que era neutral e muito menos a Arcozelo onde o pessoal nem sequer conhecia a malta que andava à bordoada. Por vezes, uns cidadãos, poucos, ouviam umas coisas sobre as batalhas na BBC onde o senhor Fernando Pessa dava notícias todos os dias, mas o resto do pessoal não ligava nem à rádio nem à guerra. Que se lixassem!

Praia da Aguda


Vitorino tinha dezasseis anos, mas começara a trabalhar quando saíra da escola em 1932. Não, a família não era pobre, era mais para o lado da remediada, o pai era marinheiro na praia da Aguda e a mãe era costureira em casa, mas para fora. Sete das irmãs e os quatro filhos mais velhos já tinham saído do ninho, umas e uns tinham casado no Mosteiro de Grijó onde fazia um frio do carago e quem lá ia tinha de usar roupa de aconchego no Inverno, mesmo no pino do Verão tal era frialdeza, que alguns até levavam sobretudo. Algumas tinham ficado solteiras à espera de chegarem a tias solteironas.  

Entrementes, das rolhas de cortiça, o Vitorino queria transferir-se para a pesca, mas quer a mãe quer o próprio pai lhe tinham dito que o mar era traiçoeiro, muito melhor era sentir os pés apoiados na terra. Por isso, depois de ter começado por ajudante de pedreiro, passara para uma mercearia, estava chateado de andar com cargas às costas, o primo Luís arranjara-lhe um lugar na fábrica da cortiça. Era um emprego bom, primeiro via os outros trabalhadores a cortar rolhas, ia aprendendo e já era terceiro oficial.


Um dia, o padre Francisco avisou as suas ovelhas que ia ser colocado na igreja de São Bernardo, em Portalegre, e Vitorino que ia todos os domingos ia à missa porque o dia do Senhor tinha ser respeitado - dizia a mãe Olinda, aproveitou o ensejo e em vez de perguntar ao “Mocho” por que diabos os brasileiros diziam caçula foi ao padre Francisco de malas já feitas pôr-lhe a pergunta. O sacerdote dissera-lhe que do Brasil só conhecia a Carmen Miranda, que ainda por cima era portuguesa. E o rapaz, mesmo sem ser marinheiro, ficara a ver navios. Na verdade Vitorino acabara por ficar muito chateado. Mas regalou-se com um pensamento: ele já tinha a bicicleta e o clérigo andava à pata. Resultado: 1-0.

daquelas fluorescentes


Deixe-se de seguir o Vitorino Ximenes dos Santos faça-se a linha para o mui digno cura, que aliás nunca curara ninguém, mas isso eram negócios da Igreja de Roma, onde o Santo Padre também não era muito afim de curas. Parece que essa especialidade era da Senhora de Fátima, não desfazendo na Santa Conceição, que  não metia o bedelho no tema. De resto, Fátima era mais para a banda dos negócios dos terços, das velas, dos crucifixos, das imagens, fluorescentes que luziam à noite sem serem ligadas às tomadas de corrente; isso sim era um mistério dos verdadeiros. De resto, a Santa Conceição estava muito conotada com o  faça sol e chuva não, no Verão, e no Inverno  trocavam-se as voltas como no vira.

Feira das cebolas

O Padre Francisco com a irmã (????) chegados a Portalegre foram em busca de casa já que a paróquia não tinha instalações para o presbítero. Arranjaram uma na rua de Infantaria 22 que dava para a praça da Corredoura e nas traseiras de várias habitações havia um pátio comum onde as vizinhas coscuvilhavam diariamente. A casa de rés-do-chão e primeiro andar era acolhedora e o padre Francisco maila sua mana (??????) sentiam-se porreiraços nela. As manhãs de corte-e-costura das vizinhas eram bem conhecidas. Nisso, ninguém levava a palma à Olinda

Pirolito


Portalegre estava (e está) situada nas fraldas da Serra de São Mamede, daí que dela venha uma frialdade fod,… oops, lixada no Inverno e por vezes também no Verão, na Primavera e no Outono. Os portalegrenses naquela altura usavam (e ainda agora usam) muito as braseiras com as suas camilhas ou as lareiras em especial nas cozinhas de tripés e caldeirões de ferro. Do outro lado da rua havia a fábrica de pirolitos. Quando estoirava um deles toda a miudagem acorria para apanhar os berlindes. Jogar ao bilas era entrenetimento, principalmente no sem piras são três.
eixo, ribaldeixo



Aliás as brincadeiras dos putos eram muito escassas. O bilas com abafador; o eixo ribaldeixo, caramelo ou pau do eixo, uma, bruma, duas, batas cruas, três pulinhos holandeses, quatro, bolo de arroz faz o pato, cinco, maria do brinco seis,. reis, sete vira a folha ao canivete, oito, biscoito, nove, dá dez réis ao pobre, dez, comichão nos pés, onze, bronze, doze, palmada, estás perdoado, três ,e meia bem cheia, catorze, atira o boné, quinze, apanha bonés, se não fazes assim, perdes e serás o próximo a abaixar!
Cuscas


O Padre Francisco com a irmã (????) chegados a Portalegre foram em busca de casa já que a paróquia não tinha instalações para o presbítero. Arranjaram uma na rua de Infantaria 22 que dava para a praça da Corredoura e nas traseiras de várias habitações havia um pátio comum onde as vizinhas coscuvilhavam diariamente. A casa de rés-do-chão e primeiro andar era acolhedora e o padre Francisco maila sua mana (??????) sentiam-se porreiraços nela. As manhãs de corte-e-costura das vizinhas eram bem conhecidas. Nisso, ninguém levava a palma à Olinda

     
 
Zona de trovoadas
   


Epela sua situação geográfica é zona de trovoadas vindas da serra. Uma noite houvera uma das grandes que até aterrorizaram as gentes. Os trovões e os relâmpagos tinham sido constantes, só amainando um pouco já chegava a manhã. Só então as vizinhas comentavam o temporal. A dona Pulquéria começara por dizer que o medo dela e do seu homem levaram-nos a esconder-se debaixo da mesa da sala de jantar. A Deolinda que era viúva refugiara-se por baixo da cama.



Todas foram contando as peripécias nocturnas, umas mais amedrontadas do que outras, uns discursos de lamurias, de cagaços até que chegou a vez da irmã (????) do Padre Francisco: “Ai vizinhas apanhei um susto tão grande que, se não me agarro ao mano Francisco, estive quase a cair da cama…” A confissão da mana (????) foi como um maná caído do céu e deu aso a conversas para mais de um mês. “..se não me agarro ao mano Francisco, estive quase a cair da cama…” correu por toda a cidade e foi alvo de galhofa. Até na Serra de São Mamede...

       


   


2017-10-26



Um pesadelo
horrendo

Antunes Ferreira
Foi dum pesadelo, a depressão bipolar, que consegui sair e quase não acredito que bastou um clique para aparecer a recaída e outro clique para recomeçar a viver… Sejamos claros: durante quase um ano em Lisboa e Goa e de novo em Lisboa fui uma pedra de basalto sem ligar ao que se passava à minha volta, à minha família, às minhas Amigas e aos meus Amigos que sempre, mas sempre! me empurraram para um caminho ressuscitado. Nunca lhes poderei agradecer.
Não há rosas sem espinhos

Mas mesmo assim faço-o do fundo do coração, sabendo que nada valho, intercalado com um muito obrigado. A vida é madrasta e não há rosas sem espinhos, nem semente semeada que dará em tempo oportuno o fruto da felicidade. Porém quase um ano não a consegui desatar de um silêncio desumano, 
marmóreo e tumular.



...descer aos infernos
Donde quero uma vez mais sublinhar os resultados que consegui alcançar e chegar aos objectivos mais consentâneos e resumidos no que o povo diz – esta vida são dois dias. Contudo o ano horribilis durou pelas minhas contas 303 dias. Um tsunami bipolar é mais do que descer aos infernos sem saber que os podia deitar fora pela janela aberta da felicidade e da euforia que queria voltar a desfrutar.

Perdoem-se leitores este desabafo que é mais confissão; embora não tenham sido parte duma dor que senti na pele e na carne que não me era possível sair desse nevoeiro sem cavalo branco nem sebastião, sempre estiveram comigo nas horas mais más. Repito: a vida é madrasta e o contar dos dias desanimados e trucidados por mor de uma maleita indescritível é uma vereda negra que nos amarga os meses ´perdidos dum calendário também perdido e lancinante.


A Raquel e eu


Hoje fico-me por aqui na companhia duma Grande Mulher de nome Raquel que me acompanhou como sempre me acompanha nos dias mais ácidos duma doença que nos tira o amor à Vida. Depois no sábado virão os filhos e as filhas/noras e os netos e a neta que são para mim os melhores do Mundo. Do Mundo? Do universo sem buracos negros nem cassiopeias mas estrelas brilhantes que nos dão o alento para alcançar o objectivo mais ansiado - viver.

  

  





2017-10-20


  




Antunes Ferreira
Sem sequer um sobressalto, um solavanco, o carro caiu ao rio mesmo ao lado da estação Transtejo-Seixal. Dentro dele um casal que sem tugir nem mugir nem se deu ao luxo de usar o travão. Caíram, apenas caíram, num baque redondo e surdo e imergiram A malta que esperava o barco e tinha gritado Cuidado! Cuidado! Ainda se dá uma tragédia! E deu mesmo!

Foi suicidado o dito cujo casal e o VW Golf também o foi. Resta agora saber quem os suicidou. Facto provado foi um acto que se tratou de um autossuicidado ou dum suicidado-auto. Até pareceu o Rali de Portugal. Face à desgraça em Palmela a Autoeuropa mandou que a bandeira da VW fosse posta a meia haste. Durante toda esta salgalhada, a inconstante Constança pediu a demissão aceite pelo primeiro-ministro à velocidade de 1456,17 km/hora. O Inimigo Público informou que consta que a Madona se propôs substituir a admitida demitida. 

Guardar o anonimato...

Perante este verdadeiro riomote, só restou ao autor investigar o que realmente teria levado ao autossuicídio. De acordo com fontes muito bem consideradas, e muito conhecedoras do tema as, ouvira os mergulhadores da Administração do Porto de Lisboa, os senhores José Monteiro Nicolau e Segismundo Oliveira da Serra que pediram o anonimato  o qual foi aceite imediatamente pelo autor. De acordo com eles a versão da estória que se segue é fundamental. E voltaram a mergulhar; ninguém os  suicidou.


... fazer um aborto...


A estória do casal suicidado é triste. O malandro no meio de uma brincadeira mais animado engravidou a moçoila, e propôs-lhe fazer um aborto; ela respondera-lhe: nem pó! A criança ver ser um filho da mãe com o orgulho dela e completara a afirmação – não aborto, não aborto, não aborto!!! E terá mandado às urtigas o malvado proponente. Houvera uma grande discussão e no final desta chegaram à conclusão  que alguém os suicidaria. E zás! Tejo para os três: o casal e o Volkswagen Golf.


Batalha de São Mamede

As dificuldades acentuavam-se e quase em desespero decidiu o autor procurar documentação: o Compêndio das estórias da História de Portugal e de outros países  que foi o que mais o ensinou. Não muito longamente para evitar a deserção dos que ainda me aturam aqui fica uma súmula dos que foram suicidados. Logo no início da cena, Afonso Henriques suicidou Dona Tareja na batalha de São Mamede. Um país que começou com um filho a bater na mãe não é, não pode ser uma grande espingarda.

Conta-se que o futuro rei de Portugal durante a porrada terá bradado Trava! Fernão Peres de Trava! quisto aqui não é o da Joana! È do Afonsinho! E o conde galego travou
 TravaTrava!!!
mesmo. E por isso voltou para a Galiza com o rabo entre as pernas porque o infante o suicidara. Vergonhas. Vamos encontrar na conquista de Lisboa aos mouros um bom exemplo dos antecedentes dos suicidados, pois um carro de bois dos cruzados ingleses que ajudaram o príncipe caiu ao Tejo e com o peso das malhas de ferro e das armadoras os seus ocupantes foram suicidados. 



Luis XVI à rasca na guilhotina


Muito mais exemplos poderia o autor aqui registar. O rei Dom Caros igualmente foi suicidado pelo Buiça; foi o regicido. Quanto a outros países encontrámos na Inglaterra o Martinho Lutero que, além de ser o reformador, foi reformado e suicidado em Londres. Da Revolução Francesa nem é bom falar: foram suicidados mais que muitos numas guilhotinas que se conhecidas como máquinas de fazer suicidar cabeças. Destaca-se a do rei Luís XVI. Ponto final parágrafo; na outra linha.


O Senhor Morte
Volte-se entretanto para a pergunta do título: quem os suicidou? Todos se recordam do mister Jack Karkovian, o Senhor Morte, e da sua máquina da morte ou seja do suicídio assistido. Por isso ficou mundialmente conhecido. Se se fala de suicídio assistido, a máquina de suicidar salta à arena. Vejam: se se tratasse de máquina de costura Singer ou a de picar carne Moulinex, estas não teriam a publicidade que tem a do Jack - e são também suicidoras. Das chitas e do algodão aos hambúrgueres e almondegas  elas também são gente! Só que a sua dimensão publicitária não tem o mesmo impacto. Mesmo assim pergunta o autor: assistido por quem? Será preciso que a assistência deva pagar bilhete?


A diferença entra...


Estas congeminações têm que lhes diga porque sempre houve, há e haverá discrepâncias entre os suicidados homens e mulheres. Porque será que se pergunta, meus Amigos, qual a diferença entre homens e mulheres? Óbvio: a diferença entra…

No entretanto prossegue o drama: quem os suicidou?  Em boa verdade não sabe o autor responder. A tentativa felizmente abortado do aborto? A Autoeuropa? A propaganda ao Senhor Morte? O Fernão Peres de Trava que travou? O nosso primeiro rei? Tem o autor apenas uma suspeita que não se exime de aqui exarar; não se julgue o faça pelas sete chagas do Cristo. Nunca o faria! Mas aquele namorado do polícia??? Acha o escriba que é uma singular coincidência a estória do cívico estar a falar com ele no Smartfone: quiçá fosse uma ordem peremptória do gajinho: deixa-te de tretas e diz ao casalinho que vá pró cara..., ops, se autossuicide Cheirou-lhe a esturro, mas nada pôde concluir. Os queridinhos dos agentes da PSP, sobretudo dos que falam ao smartefone são muito capazes disso. E de muito mais. Diria o Senhor doutor Perry Mason: o que é preciso são factos; sem eles não se pode culpar quem quer que seja, 
Na Faculdade de Direito da UL
Na Faculdade de Direito de Lisboa onde o autor fingiu que andava a estudar falava-se muito sobre o contraditório e não pôde obviamente ouvir a outra parte, pois estava toda molhada. Os rapazinhos dos senhores guardas, sobretudo os que andam de giro, apesar que se defenderem na presunção da inocência calam-se por mor das moscas...  Tantas
 chatices, tantas consultas, tantos compêndios, tantas investigações e no fim – niente. Pede o escriba as mais sérias e sinceras desculpas àqueles que esperavam uma resposta. Mas como é sabido, o autor é pluriverdadeiro, repudia a mentira e quem a apoiar; é como o azeite que vem sempre ao cimo da auga. R.I.P.
 
 
   . 

2017-10-17


O mistério da escada
do Cintra

Antunes Ferreira
Corria Antunes Ferreira o ano de 1957 quando nasceu um pimpolho ao casal Sintra que vivia na Musgueira. Os pais, não sendo católicos praticantes, decidiram batiza-lo. A cerimónia ocorreu na igreja de São João. Aquando da água benta, todos os assistentes, excluindo naturalmente o neófilo, deram-se conta de alguma indecisão do prior da paróquia. Adiante.


Pia baptismal


Como era habitual, o registo religioso decorreu na sacristia e aí se deram conta os presentes que o digno sacerdote  teria abusado do vinho de missa. Eu bem dia que ali havia coisa segredo na coisa, sussurrou a Hermínia peixeira na praça da Ribeira ao ouvido da Irene vendedora de roupas num estabelecimento da Baixa que a mandou calar.

Desta feita foi o sacristão Maurício que procedeu ao registo. Ora Maurício tinha apenas a segunda classe sem qualquer especialidade, e ali começou a saga do nome do crianço. Pais e padrinhos apuseram o dedo na página por ambos serem analfabrutos; o puto nada apôs, apenas berrava como uma vitela desmamada. O nome escolhido era Xavier Carvalho Sintra.

E o sacristão, cuidadosamente para não haver rasuras no documento, escrevinhou Chavier Cravalho Cinta. E foi um par por um olho, podia ser pior quanto ao primeiro apelido que podia ter originado comentários mês conformes aos bons costumes. Ele há coisas que por aí correm e o que não faltam são maliciosas

.  
Esticadores para os colarinhos
      

Aos seis anos via-se que o gaiato tinha queda para os negócios: vendia esticadores para os colarinhos e atacadores para sapatos e botas, na esquina dos Restauradores com a rua do Regedor. Um ano depois era ardina, etc. Faz o autor um hiato para não cansar os leitores (ainda os haverá?) Assim vamos encontra-lo como grume no hotel Avis onde vivia o Senhor Gulbenkian. Tinha 15 aninhos.

Aconteceu que o doutor Perdigão achou piada ao gajo e levou-o para a Fundação que entretanto fora criada. Chavier com ch decidiu pelo estudo nocturno na Veiga Beirão donde passou para o Instituto Comercial e para o Instituto Superior de Enconomia e Finanças; terminou com um 16, uma nota excelente. Era doutor.

Um império multiempresarial 

Entretanto disse adeus ao presidente e abriu um escritório próprio para assuntos do seu ramo. Depois foi papelaria e mais umas quantas, transportes de toda a espécie, hotéis e restaurantes, turismo e quejandos. Em suma, milionatizou. Construiu um império multiempresarial.

Vai daí casou com a Maria Alzira Silva que para não destoar tirou as Novas Oportunidades. Ainda foi para a faculdade, mas no segundo ano desistiu. Estava farta de compêndios e livros. Tiveram dois filhos e uma filha, malta fixe, cena porreira. Do andar nas Avenidas Novas passaram para uma moradia,
Moradia Chavier
na Alta de Lisboa, três andares, a cave ginásio fitness duas piscinas, uma com água quente para o Inverno, sauna e minudências diversas e outras vivendas uma na Aroeira, outra no Algarve. Estava como queria.

Todos os milionários têm uma ou mais gajas. Obviamente o Senhor Doutor Chavier com ch tinha uma a Lurdes, Luluzinha, a quem pôs um andar de cinco assoalhas no Restelo e outras mordomias consentâneas com o seu estatuto. Visitava-a todas as quartas e sextas pois tinha horário nocturno por mor do muito trabalho. A Alzira que no entretanto passara a ser a Senhora Doutora Dona Alzira, que não acreditava nem um biquinho nas justificações do querido esposo, também arranjou um namorido que era o jardineiro dos jardins do palacete e por singular coincidência se chamava Xavier mas com x e sempre ficava mais à mão de semear. Uma felicidade perene.

Dois degraus da escadaria


Mas, inopinadamente aconteceu um drama, uma grande chatice, não há rosas sem espinhos. Quando ia a entrar no seu Rolls Royce para ir para o escritório, o mordomo Serafim veio comunicar ao Senhor doutor Chavier com ch que durante a noite, sem ninguém dar conta e com o alarme desligado  tinham desaparecido dois degraus da escadaria em lioz mais branco e puro que dava do rés-do-chão ao terceiro andar. Porra! Que merda vem a ser esta, tantos cuidados e ninguém dá conta desta sacanice. Se apanho o filho da puta agarro-o pelos colhões e adjacente e dou-lhe uma carga de porrada, que o fodo! Se me der na veneta até o capo!  

O Senhor Doutor Chavier com ch era adepto da trampa, ops, do Trump e para acrescentar, quando jovem tinha andado pelo Cais do Sodré com elas, como as iscas e pelo Intendente e pela feira popular, ó jeitoso dá (-e) um tiririnho, por vezes lembrava-se do linguajar mais desbocado. Porém o pior ainda estava para vir. Três noites depois tinham-se sumido mais quatro degraus: Pêjota ao barulho.

Com a águia vitória II


Esta descobriu que o bandalho que roubava os degraus era o Xavier com x que era benfiquista dos que até cantam as papoilas saltitantes do falecido Piçarra. Andava a juntar os degraus em lioz para substituir na estátua do Marquês este com o leão pelo Orelhas com a águia. Se fosse a águia II tudo bem; mas o emblema do Benfas, vá lá, também servia.

Pelo contrário o Senhor doutor Chavier com ch era lagarto, lagarto, lagarto. Podia perdoar os devaneios da Senha Doutora Dona Alzira – e perdoou; mas ao pulha que tem na alma a chama imensa (Ver nota anterior) nem pensar! E tudo acabou em bem salvo para o ex jardineiro: o Xavier com x foi à vida, seguiu para o presídio. O que o autor não sabe se - como se passou com o Sócrates, - foi ao Pinheiro da Cruz


NOTAS
A Este textículo não tem nada que ver com «O mistério da estrada de Sintra» da autoria dos Senhores Eça de Queiroz e Ramalho Ortigão. Se assim fora, isso significava que o autor era uma besta quadrada
B Muito menos tem qualquer malévola intenção de se pensar que tem semelhança com o ex rei das Águas e x presidente do Sporting clube de Portugal (SCP).
C De repente, sem saber porquê estava o autor no domingo passado refastela no sofá preferido assistindo às aventuras do Morse e deu por si com vontade de voltar a escrever. Parece, portanto que vou melhorando da maldita bipolar. Creio que o escrito acima origina um pedido de desculpas aos que há quase um ano não se esqueceram dele



Malditos fogos!
O autor tem obrigatoriamente de se referir aos catastróficos incêndios que já causaram muitas vidas, localidades perdidas e instalações industriais e comerciais. A todos aqui fica registada a minha solidariedade que se dirigem a todos que têm combatido essa calamidade.


2017-04-06

_____________

Uma informação
sobre o motivo 
por que ainda não escrevo

Ainda não será por agora que retomo os textos que tinha programado. Isto porque as coisas de saúde ainda não estão, infelizmente, a correr como esperava. Depois de ter ido à consulta, na sexta-feira passada, da dr.ª Alice Nobre, a minha psiquiatra, que alterou as doses da medicação, continuo à espera de que as condições melhorem.
Apenas sinta que posso escrever com alguma correcção – o que desejo que seja o mais breve possível - voltarei a tentar fazê-lo.

Os leitores e comentadores merecem que lhes dê conhecimento desta situação e simultaneamente quero agradecer-lhes as atenções que me têm dispensado, aliás como sempre.

Antunes Ferreira



   ______________