Em busca do filho
da pauta
Antunes Ferreira
C
|
hama-se Luís Fagundes da Silva e é segundo sargento saxofone
da banda da Guarda Nacional Republicada, que dizem ser a melhor banda militar
do País – e é (e o resto é paisagem…). Tem tocado por tudo o que é sítio – a
banda e com ela o Fagundes obviamente – desde os concertos nas ruinas do antigo
Convento do Carmo até à colónia de emigrantes em Nework, passando pela
Venezuela, Rio de Janeiro, São Paulo, Paris, Berlim, Montreal e pela aldeia da
Senhora do Vale de Baixo, porque o cabo Mendonça é de lá e o senhor comandante
autorizou, mas só uma parte, a dos instrumentos de sopro, se fossem todos nem
em cinquenta coretos caberiam…
P
|
orém, desta feita, está encarregado de um serviço que não
tem nada – nada? Nadíssima!... – com pautas, claves de sol, fusas, semifusas,
dós, rés, mis e neste preciso momento faz xixi ao sol. Quem lhe havia de dizer
que em três dias consecutivos fora mobilizado para três ocorrências cuja música
era outra longe, muito longe, da que estava habituado a tocar. O serviço era
muito, os efectivos pouquíssimos, os objectivos lixados e depois de uma palestra
a atirar para a psique do tenente-coronel Chicharro, a banda tinha dado corda
às botas regimentais e aí foram eles, incluindo o Fagundes.
... das minas de São Domingos |
T
|
ratava-se de procurar um tal filho da puta chamado Pedro
Dias, que em Aguiar da Beira assassinara a tiro um guarda, camarada dele e um
civil e quase mandara para os anjinhos uma senhora que acompanhava o falecido a
tiro. O segundo sargento que não levava o saxofone sente-se nu. O instrumento
de nada lhe serviria se topasse com o cabrão, mas à fé de alentejano das minas
de São Domingos donde era, se o topasse, mesmo que o gajo viesse de fusca em
punho, ia-se a ele e até palitaria os dentes depois de o comer à dentada.
É
|
claro que ficara
admirado quando o enviaram para uma tal diligência sem estar minimamente
preparado. Mas el-rei manda avançar, não manda chover. Os militares da Guarda
ficaram assarapantados: nem, ao menos uns coletes anti balas? Nos filmes que a
televisão dava, toda a malta com ar de autoridade os usava, aliás de várias
cores que até ficavam muito bem nos portadores. Cenas eventualmente chocantes –
mas sem bolinha vermelha…
M
|
as as coisas não tinham ficado por ali. Os homens
arrebentados de tantas andanças, para cá e para lá, por matos e pinhais e
caminhos escalavrados, tinham recebido ordens para parar com aquela cegarrega. Resultados
népia. Depois seria o caso de um puto de dois anos que desaparecera de casa dos
avós, um “mistério” que metia por certo grossa mescambilha e umas massas
graúdas, pais separados, enfim, o trivial. Quando elas acontecem quem as pagam
são os putos. São os gemidos quando se fazem, são os insultos quando se
desfazem.
P
|
orém para ajudar os homens entre eles o Fagundes o pessoal
ainda fora a correr tentar caçar outro gabiru que também matara um cidadão.
Caramba, é demais, pensa o segundo sargento sem saxofone, enquanto vai
mastigando uma sandes de presunto de entre umas quantas que uma senhora
compassiva veio ofertar acompanhadas de um tinto de estalo, é da nossa
colheita, se quiserem mais é só dizer. Coitados, bem precisam, no estado em que
estão… E o senhor é quê? Pelas divisas deve ser general. Muito mal devem estar
as coisas pois até um general anda metido nestas embrulhadas…
Sem barba e com barba |
F
|
agundes disfarça, tem vergonha de dizer que é apenas segundo
sargento saxofone – mas sem instrumento, quer dizer, saxofone, não vá a
benfeitora ficar na dúvida… – da Banda da GNR. Por isso pergunta à benemérita
se sabe se há novidades do tal paneleiro, desculpe minha Senhora, queria dizer,
do tal Pedro Dias, não tem que pedir desculpa, mulher séria não tem ouvidos e
nos dias que correm já ninguém se importa com isso... Mas a televisão diz que o
homem a quem chamam Piloto foi visto na Galiza nas aldeias de Sandias e Xinzo
de Limia.
E
|
quando horas depois
um autocarro da Guarda o vem buscar, Fagundes deixa-se adormecer por escassos
minutos, ou seja, passa pelas brasas. E continua a cismar em tudo o que
aconteceu. A Guarda não está minimamente preparada para crimes daquela
dimensão. Está sim para averiguar o motivo que levou um vizinho a matar um outro
à sacholada. Divisão de terras, cursos de águas. Ou quando um cidadão dá cabo
de outro por suspeita de estar a ser empalitado. E pouco mais.
A
|
falta de coordenação
entre as diversas forças no tereno, ou seja entre os comandos delas, eles
próprios, andaram a apanhar papéis dando como resultado que no terreno o
pessoal desamparado tivesse a sensação que andava a apanhar bonés, atrás dos
jornalistas o que não deixava de ser verdade. A incrível distribuição de
equipamentos, por exemplo, como já tinha referido, a falta dos coletes anti
balas. E sabia-se que o fugitivo atirava a matar.
o amado saxofone |
E
|
m resumo, conclui Fagundes, um potpourri carregado de pólvora condimentado pela incompetência, pela incapacidade, pela indecisão e pela descoordenação.
Pelo menos. No que lhe toca pessoal e profissionalmente se calhar vai-lhe cair
em cima um auto de averiguações, pelo menos, quiçá um corpo de delito; E, naturalmente, a família. Mas, espera
também que vai ter à sua espera o seu precioso e amado… saxofone.
|
|
|
FerreirAmigo,
ResponderEliminarO fugitivo é muito esperto, conhece muito bem o terreno, estará a ser ajudado, mas realmente já se torna incompreensível como pode andar desaparecido há quase três semanas.
Aquele abraço, bfds, beijinhos para a Raquel
Coimbramigo
EliminarNão pode haver atenuantes para esta situação tão caricata. O homem (dando de barato que conheça melhor o terreno onde inicialmente se deu o crime) anda a gozar no resto do país e quiçá já no estrangeiro.O pedido às entidades policiais da (des)União Europeia parece uma anedota mal contada...
Qjs e abç para tu
Henrique, o Leãozão (unidos na desgraça...)
Não é nada fácil encontrar uma pessoa naquele terreno, desconhecido para a GNR e PJ, mas bem conhecido pelo foragido (só parece fácil para os citadinos... eheheh...).
ResponderEliminarPor isso, não querendo desculpabilizar as autoridades e a sua eventual incompetência, é normal que estes casos levem semanas, meses ou até anos para serem concluídos.
Mas gostei do texto.
Caro Henrique, tem um bom fim de semana.
Abraço.
Caro Jaimamigo
EliminarPoizé, eu já não credito no Pai Natal... Levei tempo (horas, meses, anos, séculos, milénios...) mas, finalmente já não credito. No menino Jesus ainda ando a treinar...
Obrigado pelas tuas palavras
Abç Henrique, o Leãozão
Enfim, já não bastava a telenovela enjoativa que obrigava os desavisados telespetadores a perseguirem um fugitivo, como se fosse nossa obrigação, vens tu com outra perseguição!!
ResponderEliminarDesculpa a minha falta de disposição para humor negro...
Afilhado, há muito não me fazes uma visitinha...
Não digas que estás doentinho, porque fartaste-te de escrever!
Convido-te para um café e bolo, na minha publicação dedicada à 3ª idade.
Rápida recuperação, põe-te fino.
Beijinhos e abraços para ti e Raquel.
~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~
Querida madrinhamiga
EliminarTens razão; mas se reparares bem o mesmo acontece com os outros blogues com quem vou tentando manter contacto. Não me vou justificar - mas as chatices têm vindo a ser tantas que só tenho tido disposição - e pouca - para ir escrevendo os meus textos. E mesmo assim...
Quando conseguir pôr a cabeça em cima do pescoço vou recomeçar as visitas pelos blogues de tantas Amigas e Amigos que bem o merecem. Digo-te já que a primeira serás tu.
E na segunda-eira voto à UCS da TAP (onde me tratam como se fora um príncipe...) para mudar o penso e ver como está a perna entrapada...
Bjs & qjs do casal e em especial do afilhado Henrique, o Leãozão
Henriquamigo, como sempre deliro com as suas crónicas :)
ResponderEliminarEsta "pauta" é demasiado complicada para a nossa GNR que está habituada a concertos mais modestos :)
Depois a mediatização também não ajuda nada. Puxa vida foi mesmo um mês à americana :)
Um beijinho para si e para a Raquelamiga com o desejo de melhoras.
Querida Fernandinhamiga
EliminarA GNR e outros que tais não conseguem consertar este concerto ainda que tenham banda e sinfónica de cinco estrelas; mas o andamento é outro...
A informação e a comunicação também andam a brigar em busca da cacha do share ou seja daquilo que vende papel ou imagem ou mesmo som mais do que outros. Enfim quanto à americanada... nada
Bjs da Raquel e qjs do Henrique o Leãozão
PS Querida Fernandinhamiga. as coisas continuam na mesa quanto às datas do desgraçado do blogue nos outros blogues. Estou disposto a PAGAR a quem resolva o problema. Se souberes quem, pede-lhe para me contactar. Obrigado
Se não foi fácil encontrar o "palito" que ao pé deste parece um aprendiz de feiticeiro, será muito mais difícil encontrar este.
ResponderEliminarUm abraço e tudo de bom para vós.
Querida Elvirinhamiga
ResponderEliminarO "Palito" é um ajudante de auxiliar de estagiário de praticante enquanto este pulha tem a escola toda, a especialidade e outras coisas terminadas em ade tais como otorrinolaringologista. Talvez daqui a a 3.987,4 anos os arqueólogos encontrem as suas ossadas...
Qjs do Henrique, o Leãozão
Meu querido amigo, confesso que fiquei com pena do Fagundes. Quanto mais não lhe valia ele estar a tocar o seu amado saxofone... Claro que o fugitivo não é fácil de encontrar. Às tantas até já o ajudaram a sair da Europa.
ResponderEliminarA tua narrativa, deliciosa como sempre.
Uma boa semana.
Beijos.
Querida Gracitamiga (I)
ResponderEliminarPoizé, o Fagundes estava, como é normal, habituado ao seu instrumento; quiseram que tocasse outro e... deu o que deu. E mais: isto de fugas em música é uma tragédia; depois de elas acontecerem não há quem as agarre...
Uma vez mais - muito obrigado. E uma sugestão: vê, sff comentário cá do rapaz no "Vivenciar a Vida" da Majo...
Qjs do Henrique, o Leãozão
Tudo isto é surreal!
ResponderEliminarCusta-me adiantar pareceres sabendo que nada sei sobre a realidade dos factos.
O que sei é que o fugitivo é perigoso , está desesperado e é capaz de tudo.
Compreendo que os habitantes estejam cheios de medo.
Ser policia neste país não é fácil...
Bjs
Querida Papoilamiga
EliminarDizes bem: tudo isto é surreal!
Num país como o nosso, um caso como este adquire proporções que noutros não costumam ter. Sabe-se que o criminoso está armado, por isso é duplamente perigoso e desesperado, também como dizes, é capaz de tudo.
Costuma dizer-se que quem tem cu tem medo: pudera, com um bicho destes...
Ser polícia nunca é fácil - aqui ou em qualquer lugar
Qjs do Henrique, o Leãozão
Pois é querido amigo Henrique, e hoje 1 de Novembro o homem ainda não
ResponderEliminarfoi apanhado. Estava na Irlanda quanto tal aconteceu e conseguia ver
os telejornais de cá, em casa de familiares, e eles fartavam-se de rir
das televisões darem tanto tempo ao assunto e do homem nada...
Pois é, onde estará o homem? Mistério do ano.
Dão-se alvíssaras?
Um abraço amigo
Irene Alves
Querida Irenamiga
EliminarSe o caso não fosse muito preocupante, poderia dizer-se que se tratava de uma anedota... negra. Uma fuga de um criminoso durante tantos dias e num país tão pequeno é caso para admirar e para recear. E só não é para rir pois o tipo é muito perigoso e está aparentemente desvairado.
Confesso que também tenho vontade de gozar com o assunto; mas, vá-se lá saber se ainda podem acontecer mais desgraças...
Qjs do Henrique, o Leãozão
Gostei deste tom ligeiro de crónica policial, onde nem falta um sargento saxofoneiro.
ResponderEliminarSe o tal Manel Palito se não tem entregue, por mor e medo, dos rigores do Inverno, também ainda hoje andaria a monte. Imagina agora, um experiente caçador, descendente de abastados progenitores e amigos por tudo quanto é lado.
O mais certo é não ser apanhado.
Não querendo ser pessimista, acho que vai ser mais um caso como o da pobre Joana e da inglesinha Mady...dado como encerrado e arquivado.
Aqui, não há geringonça que nos valha!!
Que, ao menos, o Fagundes tenha o seu instrumento em boas condições, quando chegar a casa!!
Um abraço e as melhoras, Henrique. E parabéns pela excelente crónica.
Um beijo à Raquel.
Querida Janitamiga
EliminarEsta não é uma crónica quase policial; é, sim, uma não crónica quase não policial. De outro modo seria de rir aos molhos, tal como o alecrim faz aos teus lindos olhos. Mas, eu não vou nisso: saxofone e pão com chouriço.
Imagina tu o Fagundes a chegar a casa depois de uns dias fora alegadamente a procura do "piloto" e a Hermengarda a sua cara-metade descobrir que ele vinha com o instrumento avariado. Caía o Carmo e Trindade - e nem o mestre da Banda o safava...
O Manel Palito foi chão que já deu uvs, bem como a Maddy e a Joana. Bem vistas as coisas, é preciso que se diga que isto aqui não é a casa da Joana!... :-)))))
Bjs da Raquel e qjs do Henrique, o Leãozão
Sou daquelas pessoas que gosta de assistir a actuações de Bandas Filarmónicas . Também já tive a oportunidade de estar presente nas Ruínas do Carmo, precisamente a ouvir a Banda que menciona .Ainda por cima à borla . Gostei imenso ! Não é à toa que as filas para a entrada davam voltas e mais voltas ao quarteirão .
ResponderEliminarAo ler o seu post , de resto escrito de forma muito apelativa , fiquei a saber , porque desconhecia , que os músicos da GNR faziam outros serviços que não fosse apenas tocar na sua Banda ...
Saúde !
Madalena Amaral.
Querida Madalenamiga
EliminarAntes do mais quero registar a tua primeira visita com comentário à NOSSA TRAVESSA o que me deixou muito . Agora só te peço para continuares e se o quiseres fazer tornar-te minha seguidora. Obrigado
No que concerne ao primeiro parágrafo do teu comentário apenas te dio que já somos... dois :-))))
Quanto ao resto é pura ficção. Ai de quem escreve se não conseguir "ficcionar..."
Qjs = queijinhos = beijinhos do Henrique, o Leãozão
ADENDA
ResponderEliminar...muito sastifeito
Mais uma crónica de truz, Com peso e medida certos.
ResponderEliminarAssim é que é reportar, não como essas "arvėolas" que espanejam as penas à chuva para o CM e similares (ninguém quer ficar para trás na pseudo informação de modo que a parvoíce medra melhor que o bolor na broa).
Não bastavam os desgraçados dos GNR andarem em manada a fazer um serviço que deveria ser discreto ainda arrastam os fazedores de telenovela por tudo quanto é estrada, serra ou aldeia.
Dizia um certo empreiteiro para o encarregado duma obra, que cá sei, tentando iludir uma "enrascada", "oh Zé Maria, poe-me aqui um homem competente!", O Toinico da picareta (o mesmo que amarrava à traseira das camionetas estacionadas os bois deixados pelos lavradores na berma da estrada), por entre o riso escaninho que lhe marcava a figura, tratou de desfazer as dúvidas a quem as tivesse com um sonoro "e vê-lo!".
Se houvesse... evitavam-se maçadas ao Fagundes distinto saxofonista da banda, que, assim nem apanha o bandido nem toca. E o instrumento a enferrujar.
Pelo que percebi, ainda andas com a perna em bandoleira... Rápidas melhoras e... que se Lixe o campeonato.
Grande abraço.
Amigo Henrique, também aqui não há noticias sobre onde estará o homem?!
ResponderEliminarmas acho que ele é comando ou algo do género estão dá para perceber...
cada um com a sua categoria profissional
as melhoras para si
abraço
Angela
A esta hora, o fulano já se bandeou para o Brasil ou para mais longe e estes anjinhos andaram dias e dias a dar-lhe pistas pela TVI e pelo Correio da Merd, digo Correio da Manha....
ResponderEliminar